Marrocos: um roteiro luxuoso por Marrakech, Casablanca e Rabat
No Marrocos, eu me sentia a Carla Diaz balançando os pingentes dourados na testa, sorrindo grande e repetindo como mantra: "muito ouro! Inshallah!". Não que eu possua alguma jóia, sou jornalista, fiz mestrado em Letras, acumular riqueza não é exatamente uma vocação. Mas eu estava deslumbrada com os restaurantes, os cenários, os hotéis marroquinos — um deles, um palácio do sultão no século 18.
A novela "O Clone" teve grande influência no interesse dos brasileiros pelas paisagens do Marrocos, que segue sendo um destino desejado quase 25 anos depois. Na verdade, o número de turistas brasileiros por lá aumentou 48% nos primeiros meses de 2025 em relação ao mesmo período do ano passado, segundo o Escritório do Turismo no Marrocos.
Têm papel importante a retomada de voos diretos de São Paulo, preços vantajosos em comparação a outros destinos internacionais e o acesso facilitado de brasileiros — não é necessário visto para turistas, só passaporte.
A gente foi convidado pela companhia aérea Royal Air Maroc e pelos luxuosos hotéis Four Seasons para visitar o "reino encantado do Marrocos" em junho 2025. Conhecemos Casablanca (a capital econômica), Rabat (a capital política) e Marrakech (a cidade mais visitada do país). São as três cidades marroquinas onde a famosa rede do Bill Gates e do príncipe saudita Alwaleed Bin Talal Alsaud tem hotéis.
Esse roteiro não é exatamente o mais tradicional. Se eu fosse você, incluiria pelo menos uns dias em Fez, com seus curtumes coloridos, uma passagem por Chefchaouen, a cidade azul do Marrocos, e um acampamento no deserto. Ainda volto para ter a experiência completa, com ou sem luxo — Inshallah!
Onde fica o Marrocos
O Marrocos fica no norte da África, na região conhecida como Magrebe. Faz fronteira com Argélia (a leste) e Saara Ocidental (ao sul), é banhado pelo Oceano Atlântico (a oeste) e pelo Mar Mediterrâneo (ao norte). Fica perto da Espanha, a apenas 13 km de distância no chamado Estreito de Gibraltar. Esse é um dos motivos por que é considerado o mais ocidentalizado dos países do Norte de África.
Veja o mapa do Marrocos, com as principais cidades turísticas:
Voos para o Marrocos - como chegar
Existe a opção de voo direto do Brasil para chegar ao Marrocos — e isso para mim já é luxo dos grandes. A Royal Air Maroc retomou em dezembro o trecho do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, ao Aeroporto Internacional Maomé V, em Casablanca. As operações haviam sido interrompidas em 2020 devido à pandemia.
A frequência é de três voos semanais, em domingos, terças e sextas-feiras, com duração aproximada de nove horas. Dica de ouro: a companhia permite fazer um stopover no Marrocos de até 7 dias na classe Econômica ou até 14 dias na Executiva, sem custo adicional. Oferece conexões em Casablanca para mais de 90 destinos, inclusive na Ásia e na Europa.
Também é possível voar fazendo conexão com companhias aéreas como TAP Air Portugal, Turkish Airlines, Air France, Lufthansa, Iberia, Air Europa e Emirates. Em alguns casos, é mais barato, mas nem sempre. Baixe o aplicativo do Melhores Destinos e configure as notificações por região que a gente te avisa quando pintar alguma promoção de passagem.
Marrocos: o que você precisa saber antes de viajar
Capital: Rabat
Idiomas: árabe, francês e, em algumas regiões, espanhol
Fuso horário: 4 horas à frente (GMT+1)
Moeda: Dirham marroquino (MAD), normalmente se aceita euros e dólares
Documentos: passaporte
Que documentos precisa para viajar ao Marrocos?
Quando eu viajei, em junho de 2025, o único documento obrigatório era o passaporte válido. Não era exigido nenhum tipo de vacina e nem visto para viagens de até 90 dias.
Não era obrigatório o seguro de viagem para entrar em Marrocos, mas é altamente recomendado. Ele oferece assistência com atendimento médico ou hospitalar e várias outras coberturas. Aproveite os descontos exclusivos para leitores do Melhores Destinos: faça a cotação neste link.
Qual é a moeda do Marrocos?
A moeda oficial é o dirham marroquino (MAD), mas dólar americano e euro são amplamente aceitos. Em julho de 2025, um real valia 1,65 dihram.
Nem tente comprar dirham aqui no Brasil, você pode trocar dólares ou euros nas casas de câmbio por lá ou então sacar em um ATM com cartão. A gente costuma sacar com cartão de contas internacionais, tipo da Wise ou da Nomad.
Marrocos é barato?
Eu não achei os preços praticados no Marrocos tão diferentes das áreas turísticas do Brasil. Um prato em um restaurante bacana como o Dar Dada, em Casablanca, partia de 100 dihrans (R$ 60), nosso banquete no Eleven Twelve de Marrakech saiu por R$ 200. Mas eu vi pratos em restaurantes simples da medina por 60 dihram, que dava R$ 37, o mesmo preço do combo Big Mac por la.
Em um padrão Four Seasons, as diárias de hotéis tendem a custar mais de R$ 4 mil, mas há opções em pousadas ambientadas em riads (casas típicas marroquinas) na casa de R$ 800 em Marrakech, que é o destino mais turístico. Tem coisa barata também, mas não está bem avaliada. Na rede econômica Ibis, as diárias partiam de R$ 341 na cidade, mas com a preocupante nota 6,3 no Booking.
O que você acha? Eu não chamaria de barato, mas é mais em conta que boa parte dos destinos internacionais, especialmente na Europa e Estados Unidos.
Como é o clima no Marrocos? Confira quando viajar!
Varia muito de acordo com a época do ano e com a região. No verão, Marrakech tende a ser 10 graus mais quente do que Rabat ou Casablanca — a gente sentiu essa diferença no mesmo dia.
No norte e ao longo da costa atlântica, tem verões quentes e secos — temperaturas entre 25°C e 35°C — e invernos amenos e úmidos, com médias de 10°C a 18°C. Cidades como Casablanca, Rabat e Tânger têm esse tipo de clima. Já no interior do país, como em Marrakech e Fez, os verões são mais intensos, com temperaturas que frequentemente ultrapassam os 40°C, enquanto os invernos podem ser frios, especialmente à noite.
A piscina do Four Seasons foi um oásis no calor de 38°C que fez em junho
Qual é a melhor época para viajar ao Marrocos?
Em linhas gerais, a melhor época para viajar ao Marrocos é na primavera (março a maio) e no outono (setembro a novembro). Esses períodos oferecem temperaturas mais amenas e agradáveis em quase todo o país, o que proporciona uma experiência de viagem mais confortável, ideal para explorar cidades, o deserto e áreas montanhosas.
Eu diria apenas que o verão (junho a agosto) deve ser evitado por quem não tolera muito calor, especialmente, nas regiões do interior e no deserto, onde as temperaturas frequentemente ultrapassam os 40°C. Por outro lado, o verão pode ser agradável em áreas costeiras, onde o clima é mais fresco por causa da brisa do Atlântico ou do Mediterrâneo.
Marrocos fica em qual continente?
Como a gente já pincelou, o Marrocos fica no continente africano, mais especificamente no noroeste da África. Mas tem fortes influências culturais, históricas e políticas do mundo árabe e também da Europa, devido à sua proximidade com a Península Ibérica.
Quais são os tipos de tomadas em Marrocos?
Em Marrocos, as tomadas utilizadas são dos tipos C e E, que são comuns em grande parte da Europa e compatíveis com com boa parte dos nossos equipamentos do Brasil — eu não precisei usar adaptador em nenhum momento. A Tipo C tem dois pinos redondos, enquanto a Tipo E também conta com dois pinos redondos, mas com um orifício adicional para o pino de aterramento.
Viagem ao Marrocos - roteiro por três importantes cidades do país
Casablanca: mistura do histórico com o moderno
Casablanca é a maior cidade, o centro econômico e a principal porta de entrada do Marrocos. Para trazer à nossa realidade, é o equivalente à São Paulo do país africano. Tem restaurantes incríveis e a Mesquita de Hassan II, a maior do Marrocos e única que pode ser visitada por não muçulmanos. A gente conta tudinho sobre ela logo abaixo.
A cidade fica na costa oeste do país, banhada pelo Oceano Atlântico. É o hub da Royal Air Maroc, que faz conexões ali para mais de 90 países. Considerando que provavelmente você vai pousar ali, vale ficar uns dois dias, para conhecer esse misto de história e modernidade.
O que fazer em Casablanca:
- Mesquita de Hassan II
A única que pode ser visitada por não muçulmanos no Marrocos, a Mesquita de Hassan II conta com mosaicos coloridos e o segundo maior minarete do mundo — a torre tem 210 metros, a altura de um prédio de 60 andares. Mesmo que você tenha só um turno em Casablanca, vale dedicá-lo a essa verdadeira obra de arte da arquitetura islâmica.
A obra foi projetada por um arquiteto francês, com investimento bilionário. Cabem 20 mil homens e cinco mil mulheres, que oram separadamente, em um mezanino de madeira. E a mesquita é cheia das tecnologias: o teto abre para que entre o sol, e o chão pode ser aquecido.
Os turistas ainda podem descer ao subsolo para conhecer as salas de lavagem, onde os muçulmanos se purificam antes das orações. Outro diferencial é que essa mesquita fica praticamente em cima do Oceano Atlântico, sobre uma plataforma artificial.
A gente precisa tirar os sapatos para entrar — então evite usar aquela meia furada hehe — e só se visita a mesquita fora do horário das cinco orações diárias, que varia de acordo com o horário do nascimento do sol. O ingresso custava, em junho de 2025, 140 dirhams marroquinos, em torno de 90 reais.
- Restaurantes e bares em Casablanca
Casablanca tem uma cena gastronômica notável, tanto para quem busca a melhor experiência marroquina, quanto para quem não está a fim de arriscar e prefere cozinha internacional.
A janta que eu tive no Dar Dada foi a melhor de toda a viagem, a melhor das minhas últimas viagens, na verdade. É o restaurante perfeito para conhecer a comida marroquina: boa gastronomia, um lugar belíssimo, apresentações artísticas de bom gosto — tinha uma banda e bailarinas de dança do ventre quando fomos. Só não é a opção mais econômica, os pratos partiam de R$ 60, os mais baratinhos.
O restaurante se localiza em um beco da Medina (centro histórico), dentro de uma autêntica riad. Riad é uma casa tradicional onde viviam grandes famílias, caracterizadas por uma espécie de jardim interno central. Vendo do lado de fora você não daria nada, mas fica boquiaberto quando entra, depara com esse canto de chá marroquino e segue pelos corredores até o salão principal, decorado com plantas, abajures e azulejos de mosaicos coloridos. Tem salas mais reservadas também, cada qual com uma decoração única, coisa de Pinterest.
A gente provou basicamente todas as entradas e eu acabei me empanturrando antes de chegarem os pratos principais — que amadorismo! Daí provamos tagine, um cozido tradicional de carne com legumes (foto à esquerda), cuscuz com carne, legumes e Tfaya, um molho doce deles (foto à direita) e mais um monte de coisa deliciosa. Fora as sobremesas.
Se a ideia é tomar um vinho acompanhado de umas tapas ao pôr do sol, tenho outra dica: Le Cabestan. Fica no Boulvard de la Corniche e tem uma das melhores vistas para o Oceano Atlântico.
Mas já vá preparado para gastar, porque bebida alcoólica não tão barata no Marrocos, muito menos ali. Coquetéis custavam 120 dirhams marroquinos, R$ 70. Os vinhos partiam de 320 dirhams, ou R$ 200. Para compensar, tinha tapas, como sardinhas defumadas ou humus, a partir de 65 dirhams, ou 40 reais. Se a ideia é jantar, a especialidade deles é a culinária mediterrânea.
Sob hipótese alguma, vá embora antes de dar uma passadinha no banheiro voltado para a praia. Consegue se imaginar refletindo sobre a vida nessa privada? Foi uma das atrações que mais entusiasmaram o meu grupo de brasileiros, todo mundo quis foto.
Se a gente tivesse mais tempo, eu teria ido Rick’s Café, um bar inspirado no clássico filme Casablanca. Importante destacar que o ganhador de três Oscar não foi gravado ali, mas a casa noturna inspira a decoração nessa mansão marroquina de 1930. Virou uma das principais atrações turísticas da cidade, ouvi falar que é necessário reservar com semanas de antecedência.
Corniche de Ain Diab e pôr do sol na praia
Vale explorar a Corniche de Ain Diab, o calçadão à beira do Atlântico, com restaurantes e cafés com vista para o mar. Essa é uma região bem rica de Casablanca.
A praia por ali não é tão convidativa para um mergulho — tem ondas fortes, pedras em alguns pontos, mar gelado. Sem falar que a areia deixa o pé preto hehe. Mas como a gente está do outro lado do Atlântico, ali rola de assistir o sol se pondo no mar, é um espetáculo. Eu fiz essas fotos na praia em frente ao nosso hotel, Plage Lalla Meryem.
Como viajei exatamente em um feriado muçulmano, a praia estava cheia de moradores, que jogavam bola na areia e curtiam o mar até perto de anoitecer, apesar do vento frio. Algumas mulheres vão à praia de túnica e véu mesmo, ou de burkini, um traje próprio pra banho de mar que cobre todo o corpo, exceto o rosto, as mãos e os pés. Outra coisa que me chamou atenção foram os cavalos na areia — tentaram me vender uma voltinha, inclusive.
Visita guiada por Casablanca
Se você não quer perder muito tempo planejando, pode contratar uma visita guiada por Casablanca, para ter uma noção geral da cidade em três horas.
Além da Mesquita Hassan II, esse tour aqui também passa por um mercado de souvenir, com artigos têxteis, especiarias, peças de couro; pelo bairro Habour, com forte influência da era colonial francesa, e pela praça das Nações Unidas de Casablanca, localizada às portas da Medina. É um ponto de união entre a antiga Medina e a parte moderna da cidade — mas em poucos lugares eu vi tanto pombo, cruzes.
Veja os horários e preços do tour neste link.
Hotéis em Casablanca
Eu entrei só o pó da rabiola no Four Seasons de Casablanca depois de viajar a madrugada inteira, mas fui recebida como uma rainha. Não sei o que foi melhor por ali, o atendimento, a decoração finérrima, a vista para o mar, os travesseiros que abraçam, o banheiro maior que minha sala. E me esperaram com docinhos marroquinos no quarto, com uma bandeira brasileira de chocolate.
Esse hotel fica muito bem localizado junto à Corniche, avenida beira-mar, perto de bares e restaurantes. Tem acesso direto à praia, por esse caminho de conto de fadas, e piscina levemente aquecida.
O restaurante é maravilhoso, estou tendo dificuldades de superar as ostras com queijo gratinado. Sobre o café da manhã, além de um buffezão, nesse Four Seasons os hóspedes também recebem um menu para escolher a la carte, sem custo adicional. Eu fui de ovos benedict, com tomate confitado e bacon. Se não tiver muito vento, dá para tomar café na sacada, curtindo a vista para o mar.
Seguem outros hotéis em Casablanca bem avaliados pelos hóspedes:
Rabat: capital do Marrocos e sede real
Você deve ver o quadro do rei assim que chega no Marrocos: um homem sentado em um trono dourado, de 62 anos (embora na foto esteja mais novo), terno, barba e cabelos curtinhos, aparentemente baixinho — não achei a altura na internet —, um semblante simpático ao lado da bandeira do Marrocos. Esse é o rei. O país tem uma monarquia constitucional, e em Rabat fica o principal Palácio Real.
Rabat fica a mais ou menos uma hora de Casablanca, também fica na costa do Atlântico. É uma cidade limpa e organizada, onde o maior arranha-céu do pais desponta atrás de ruínas de uma cidade romana, e atravessar as muralhas andaluzas te faz sentir passando um portal do tempo. Ficamos dois dias em Rabat, acho um período bem adequado.
O que fazer em Rabat:
- Palácio Real de Rabat
Acompanhado de um guia credenciado, você pode conhecer a parte exterior do palácio real do Marrocos em Rabat, Dar al-Makhzen. É uma das residências oficiais do rei Mohammed VI, além de o centro simbólico e político do país. Como não é permitido entrar, é uma visita rapidinha, normalmente a caminho de outra atração.
É uma espécie de bairro super limpo, seguro, sossegado e ordenado. Abriga gabinetes administrativos, uma mesquita real, a escola do palácio — onde os filhos do rei e outros possíveis sucessores estudam — residências de funcionários e jardins cuidadosamente cultivados. É também um centro de cerimônias e recepções oficiais, como visitas de chefes de Estado. O último presidente que tinha passado por ali era o francês Emmanuel Macron.
- Kasbah dos Oudaias
É um bairro histórico dentro de uma fortaleza do século XII, no topo de uma colina, e o lugar mais bonito que encontrei em Rabat. É composto por um verdadeiro labirinto de ruelas apertadas, cercadas de casas brancas, com arbustos floridos que escalam as fachadas. Praticamente não passa carro, no máximo motos de moradores, e se perder por ali te recompensa com uma vista incrível do Oceano Atlântico. Do Belvedere d'Oudaias, é possível contemplar a praia, a marina e até a cidade vizinha de Salé.
Tem algumas barracas de souvenir, e lá encontrei também uma lojinha dedicada a produtos com óleo de argan. É um um óleo vegetal extraído das nozes da árvore de argan, nativa do Marrocos, conhecido por suas propriedades nutritivas e hidratantes. Uma boa dica de presente, viu? Não deixe de ir até o Café Café Maure, ou Café Des Oudayas, que tem uma belíssima vista do mar. Ele fica a uma porta de distância dos lindíssimos Jardins da Andaluzia. Ali ao lado também fica o Museu de Oudayas, ou Museu de Joias de Rabat, construído nos antigos pavilhões do sultão Moulay Ismaïl.
Essa aqui era uma das portas de saída do bairro fortificado, ao lado dos Jardins da Andaluzia. Veja se não é o cenário marroquino perfeito?!
- Medina antiga
Saindo do da Kasbah dos Oudaias, você está ao lado da Medina Antiga, que é como se fosse o centro histórico de Rabat. A gente percorreu um pedacinho de não mais de 30 metros da Avenue des Consuls, onde tem uma espécie de souk (mercado árabe) ótimo para comprar presentes, acessórios e objetos de decoração.
Por lá, eu encontrei bolsas de couro, de pano e de palha, luminárias coloridas, espelhos, lenços, tapetes — quero ver mala pra levar isso. Vale ficar atento a pickpockets (batedores de carteira) nessa região, foi o alerta do nosso guia.
Outra coisa importantíssima para quem vai às compras: ali vigora a lei da pechincha. Jamais aceite o primeiro preço que um vendedor te passa nesses mercados de rua. Eu falo mais sobre minha experiência na negociação em Marrakech, abaixo.
- Ruínas de Chellah
Chellah é onde ficam as ruínas de uma cidade romana que depois virou cidade islâmica, cercada por muralhas. Um dos lugares mais interessantes do ponto de vista histórico e um passeio bem gostoso, que passa por bosques e jardins. Quando chegamos ao portão principal, de 1339, encontramos esse artista animadíssimo:
Escavações arqueológicas realizadas no início do século XX revelaram a presença de templos, banhos, uma praça pública (fórum), um arco triunfal e outos prédios. O mais conservado é com certeza a Mesquita Abu Yusuf Yaacoub, que possui um pátio, uma sala de orações, um mihrab, um minarete (torre) e elementos decorativos islâmicos.
O acesso a ela se dá por um arco pontiagudo em forma de ferradura, lindo, que se abre para o sahn (pátio) da mesquita, marcado por túmulos sem identificação. O salão de orações consiste em quatorze pilares feitos de tijolos.
Ali eu vi perto um bicho que eu só conhecia de histórias: dezenas de cegonhas fizeram seus ninhos sobre os pilares da mesquita. O silêncio desse lugar é quebrado pelo curioso som que elas fazem, um grito rouco. Ah, e olha que massa o contraste das ruínas com o maior arranha-céu do Marrocos ao fundo, a Torre Mohammed VI.
Mas atente que esse sítio arqueológico é uma espécie de parque, com cobrança de ingresso. Custava a partir de 50 dirhans marroquinos, ou R$ 30, em junho de 2025.
- Torre Hassan
A gente acabou não passando lá, mas a praça da Torre Hassan é um dos cartões-postais de Rabat. É onde fica o Mausoléu de Mohammed V, um verdadeiro munumento da arquitetura árabe-muçulmana. Dizem que mais de 400 artistas marroquinos trabalharam na sua ornamentação.
Essa e outras atrações que trouxemos aqui no post estão nessa visita guiada por Rabat.
- Pegar uma prainha, talvez?
Essa eu boto com ponto de interrogação porque eu mesma não tive coragem. Tinha um ventinho bem gelado, mesmo no mês de junho. Mas se você ainda tiver tempo, vale pelo menos passear pela Praia de Rabat, que fica logo abaixo da Kasbah dos Oudaias.
Cercada por dois molhes, ela tem mar azul clarinho e orla de pedrinhas. Chamou atenção que tinha gente com pranchas de surfe, embora não houvesse praticamente nada de onda. É massa para curtir o cenário e ver as diferenças para as nossas praias. Ah, e olha que curioso: tem um cemitério antigo praticamente na orla.
Hotéis em Rabat
O Four Seasons Rabat é um hotel novo, inaugurado em 2024, ambientado em um patrimônio arquitetônico de Rabat. Um dos prédios desse complexo serviu de residência de verão para o sultão no século 18, era conhecido como Palácio à Beira-Mar. Outro, foi um hospital militar há pouco mais de um século. Massa, né?
A área da recepção é de tirar o fôlego — é de lá a foto que abre essa matéria. Por vezes, tinha um músico interpretando canções marroquinas. Um carrinho com chás especiais também recepciona os hóspedes. Eu experimentei um blend floral incrível, a atendente maravilhosa foi super paciente me explicando cada um, mas a pão-dura aqui sofreu com a conta de R$ 60.
A piscina ao ar livre é cercada por palmeiras e espreguiçadeiras, onde dá para assistir ao pôr do sol no mar. Os 200 quartos e suítes do hotel estão distribuídos por vários edifícios com vista para o mar ou para o jardim, a maioria com varanda ou terraço.
O hotel conta com três restaurantes e uma área de spa incrível, com essa piscina coberta, com hidromassagem, saunas e até uma sala onde cai gelo do teto. Aham, neve no Marrocos. E o café da manhã é um verdadeiro banquete. Dá para tomar dentro do restaurante ou na área junto à piscina, que é ainda mais agradável.
Seguem outras sugestões de hospedagens, para diferentes orçamentos:
Marrakech: a "cidade vermelha" do Marrocos
O destino mais visitado do Marrocos oferece uma mistura encantadora de cores, aromas e barulhos também, de motos, de gente negociando, do chamamento das mesquitas. Você pode explorar as ruazinhas labirínticas da medina, a cidade murada, e já sair pechinchando no souk, que é como eles chamam os mercados árabes. E não deixe de tomar um chá como um verdadeiro marroquino, mesmo que esteja fazendo 40 graus — é praticamente um ritual.
De carro, Marrakech fica a 3h30min de Rabat e 2h45min de Casablanca. Ela ganhou o apelido de Cidade Vermelha por causa do tom terracota das paredes, que é mantido por lei. Além de uma arquitetura marcante, você pode esperar comida boa e hotéis dignos de White Lotus.
Veja alguns passeios populares:
- Noite no deserto de Agafay
- Passeio de camelo pelo deserto com jantar e espetáculo
- Tour gastronômico por Marrakech
- Tour de quadriciclo pelo palmeiral de Marrakech
O que fazer em Marrakech:
- Medina de Marrakech e seus souks
Perder-se na medina (centro histórico) é uma das coisas mais legais para fazer em Marrakech, suas ruazinhas labirínticas têm a alma da cidade. Mas quando eu digo "se perder", não leve para o literal, porque é uma das maiores medinas do Marrocos. Eu confesso que uma hora perdi a noção geográfica heheh. Uma boa referência para começar o passeio é a Praça Jemaa el-Fna, a gente fala mais dela no tópico abaixo.
Tem várias atrações turísticas nessa região, e é o lugar perfeito para fazer umas comprinhas. Nas ruas mesmo, você encontra charmosos lojinhas de temperos, de artigos de couro. Mas o santuário da pechincha são os souks, mercados árabes com centenas de bancas onde é possível achar tapetes, cerâmicas, especiarias, roupas, luminárias e tudo que é tipo de souvenir.
Está ligado que precisa pechinchar bastante nesses comércios, né? Eu faria uma boa pesquisa de preços (várias bancas vendem a mesma coisa) e pediria pelo menos 50% de desconto. O que eu reparei é que eles estão dispostos a reduzir bem o preço, mas querem te ver fazendo concessões também, não adianta bater o pé no valor inicial. A minha tática de levar notas baixas para dizer que "é só o que tenho" não funcionou: eles sacavam logo uma máquina de cartão. Ah, eles aceitam tanto dirhrans, quanto dólares e euros.E quando for à medina, não deixe de experimentar os chamados "Cornes de Gazelle", ou Chifres de Gazela. São biscoitos tradicionais do Magrebe (Norte de África), conhecidos pela sua forma de lua crescente e recheio de pasta de amêndoa aromatizada com água de flor de laranjeira. Tem loja dedicada só a eles por ali, e não é difícil encontrar o doce nas casas de chás marroquinas.
- Praça Jemaa el-Fna
A minha dica é que você retorne ao entardecer, que é quando vira uma grande praça de alimentação a céu aberto, com bancas vendendo tagine, cuscuz, carnes, doces e até cabeça de cordeiro. Também se multiplicam as apresentações artísticas, com contadores de histórias (os chamados griots), dançarinos, músicos Gnawa, com raízes em rituais sufi, e acrobatas.
- Mesquita Cutubia
Ela fica a cerca de 400 metros da Praça Jemaa el-Fna, é fácil de avistá-la. É a maior mesquita de Marrakech e um dos seus cartões-postais. O nome deriva do árabe al-Koutoubiyyin, que significa bibliotecário, pois a mesquita costumava estar rodeada por vendedores de manuscritos.A torre tem 69 metros de altura e uma largura de 12,8 metros. Foi construída no século XII, durante o domínio da dinastia Almóada, com arquitetura que reflete o estilo clássico do islamismo do norte da África: simples, elegante e monumental. Só muçulmanos podem visitar o interior da mesquita, mas boa parte dos tours por Marrakech passam para vê-la por fora. Pena que estava nessa versão Hellraiser, com obras de manutenção.
- Conhecer Palácios históricos
Tem palácios lindíssimos em Marrakech, construídos por sultões e nobres de diferentes gerações. Seguem duas sugestões que podem ser visitadas:
- Palácio da Bahia: decorado com mosaicos, tetos pintados e jardins internos. Era a residência de um grão-vizir do século XIX — uma espécie de chefe de governo ou primeiro-ministro do mundo islâmico. Gigantesca, diga-se: tem 150 quartos que se unem em diversos pátios e jardins, além do harém das quatro esposas e 24 concubinas do nobre. Ah, o nome, Bahia, significa "belo".
- Palácio El Badi: Ruínas de um palácio grandioso do século XVI, com pátios abertos, muros espessos e vários ninhos de cegonhas. Com o nome de "O Incomparável”, esse lugar teve mais de 300 quartos, e decoração em ouro, turquesas e cristal. Mas hoje precisa de criatividade para enxergar isso, já que caiu em decadência no final do século 17, quando o sultão Moulay Ismail decidiu transferir a capital de Marrakech para Meknes, e ficou em ruínas.
- Medersa Ben Youssef
A Madraça Ben Youssef é uma escola islâmica construída há quase meio século em Marrakech. Impressiona com sua arquitetura simétrica, detalhes em madeira entalhada e mosaicos coloridos conhecidos como Zellige, um ladrilho de terracota com pequenas placas esmaltadas coladas em gesso e dispostas de forma geométrica. É uma joia da arquitetura islâmica no meio da medina. A Madraça foi construída pelo Sultão Abdullah Al-Ghaleb Assaadi entre 1564 e 1565 e, durante quatro séculos, permaneceu como um reduto de estudantes (talaba). Eles estudavam religião, mas também outras áreas do conhecimento, tipo filosofia, matemática, história.
O complexo possui 136 cômodos, distribuídos entre o térreo e o andar superior, uma sala de orações, um pátio e uma sala de abluções. Uma das coisas mais legais é caminhar entre os mini-quartos, é necessário literalmente se abaixar para passar de um cômodo ao outro.Hoje, é uma atração turística, não é mais usado para fins educativos. E está cheio de cantinhos instagramáveis. Essa porta aqui chegava a gerar fila — eu que comecei ela hehe. O ingresso da Madraça custava 50 dirhans, ou R$ 30.
Umas das experiências mais legais que tivemos na viagem foi em uma tradicional casa de chás marroquina, a bebida que é uma das maiores tradições desse lugar. A ElevenTwelve fica em um belíssimo riad (casa tradicional) da Medina, onde nós almoçamos. O nome advém da data gravada no teto de madeira, que no nosso calendário corresponde ao ano 1700.
Essa casa oferece chás das 12 regiões do Marrocos e dispõe também de um pequeno museu com utensílios para chá de uma família tradicional, incluindo prataria britânica rara, peças artesanais e acessórios feitos em várias regiões do país. Ainda tivemos uma degustação de três chás autorais. A bebida foi feita na nossa frente por um mestre de chás, que botava e devolvia a infusão no copo de vidro até ficar com a cor e o gosto que desejava.
Para ter a experiência completa, provamos o brunch da casa, que custava 340 dirhams, ou cerca de R$ 200. Entre os pratos tradicionais servidos, tinha Herbel (mingau com trigo triturado, tradicional em feriados), tanjia (carne ou frango cozido com limão e açafrão), madfouna (pão recheado com bife, amêndoas e ovos cozidos), ensopado de lentilha, Rghaif (crepes fritos recheados com amêndoas e regados com mel), Raib amlou (um Iogurte caseiro com infusão de flor de laranjeira e regado com amlou) e mriket hzina (salada de laranja, azeitonas pretas e alho). Esse último, é conhecido por lá como "sopa da mulher triste", veja que curioso.
- Jardins de Marrakech
Eles parecem oásis no clima seco de Marrakech, vale muito a pena incluir um jardim no roteiro.
- Jardim Majorelle: Um dos lugares mais fotografados de Marrakech, com tons vibrantes de azul, conhecida como "Azul Majorelle", plantas exóticas e o Museu Berbere. Foi criado pelo artista Jacques Majorelle e depois restaurado por Yves Saint Laurent.
- Jardim Secreto: Um oásis calmo escondido no meio da medina, com arquitetura tradicional e belas fontes.
Hoteis em Marrakech
Uma das minhas memórias favoritas da viagem é das primeiras horas do dia na varanda térrea do meu quarto no Four Seasons Marrakech. Havia duas espreguiçadeiras de madeira, voltadas a árvores com diferentes tons de verde, visitadas por passarinhos todo santa dia. Ao fundo, o som sutil de um chafariz. Volto para lá quando quero evocar uma imagem de paz.
É, todos os hotéis em que nos hospedamos no Marrocos foram de altíssimo padrão, mas esse foi o meu preferido. Nem pelas piscinas de novela ou pela comida incrível (incrível mesmo), mas pelo bom gosto em mesclar arquitetura árabe com natureza, pelos corredores de oliveiras, pelo canto dos pássaros. E a atenção aos detalhes: cestas com garrafas de água gelada junto às espreguiçadeiras, protetor solar à disposição na área da piscina, fraldas e lenços à disposição no fraldário.
O café da manhã ali é excepcional, e dava para curti-lo ao ar livre, em frente aos espelhos d'água. Não deixe de experimentar o amlou, creme marroquino tradicional feito de amêndoas torradas, mel e óleo de argan puro. A textura parece com Nutella, menos doce, mas eles dispõe de versões com chocolate para nós formiguinhas. A sequência que experimentamos no jantar foi incrível (eu estava com saudade de comida italiana), bem como o pôr do sol com drinks no rooftop, ao som de um bom DJ. Hei Four Seasons, já dá para voltar?
Veja os preços neste link.
Seguem mais bons hotéis, com algumas opções mais em conta:
Esse foi o meu roteiro luxuoso pelo Marrocos, uma semaninha que passou voando e deixou saudade. Espero que te inspire a planejar a sua viagem. Com sorte, nos encontramos por lá!