Serra de Tramuntana
O pôr do sol pintava de rosa o topo da montanha à nossa esquerda. No fim da da curva, o Mediterrâneo apareceu atrás das oliveiras, além do penhasco. Estava tão lindo que eu não sabia se eu sorria ou se eu chorava atrás volante do Cinquecento vermelho, acho que eu fiz os dois. Então surgiram os primeiros sobrados de pedra e esquadrias coloridas, uma marca da vila histórica de Deià.
Entendo se você estiver indo pra Maiorca sonhando com as praias de mar turquesa, mas foi nas montanhas que eu tive a experiência mais surpreendente da viagem. Uma cordilheira paralela à costa noroeste da ilha de Maiorca, a Serra da Tramuntana reúne as estradas cinematográficas da ilha espanhola, com seus vilarejos de contos de fadas e falésias fascinantes à beira-mar. Não à toa foi declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco.
Cap de Fermentor, Sa Calobra e Vila de Valldemossa
Nesse post, eu vou contar o meu roteiro de dois dias pelas estradas Ma-2210 e Ma-10. Mas foi muito pouco, se você tiver mais tempo para explorar essa região, vai poder conhecer outras cidades medievais e curtir a paisagem com mais calma.
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Serra da Tramuntana: o que você não pode perder
Iniciamos a viagem em Alcúdia, no norte de Mallorca, ainda pela manhã — quanto mais cedo, melhor. Contornamos a praia de Platja del Port de Pollença e começamos a subir a rodovia MA-2210.
Vá preparado para subidas desafiadoras e curvas realmente fechadas. No caminho para Formentor, os ônibus chegam a buzinar perto das curvas para alertar quem vem no sentido oposto. No começo, achei que estavam me xingando e levei para o pessoal hehe.
Comece por Es Colomer e Cap de Formentor
O primeiro ponto turístico que encontramos foi o Mirador de Es Colomer, um mirante na ponta de uma falésia, a 232 metros do nível do mar. Tem um estacionamento público de ambos os lados da rodovia, mas não é raro de estar cheio.
Os visitantes caminham uns 200 metros em um caminho pavimentado, com alguns lances de escada, que vai revelando paisagens cada vez mais estonteantes.
Mas essa é só uma parada no caminho do Cap de Formentor, que significa "fim de Formentor", o nome da península de 20 quilômetros, a nordeste do porto de Pollença. Eu já visitei faróis em muitos países, mas nenhum fica em um cenário tão impressionante, no topo daquela montanha cortada por uma estrada dramática, contrastando com o azul intenso do Mar Mediterrâneo.
Atente que o acesso de veículos de passeio à península de Formentor é restrito durante os meses de verão (junho a setembro). Nós deixamos o carro no estacionamento da Playa de Formentor (não cobrava nada) e pegamos ali mesmo o ônibus que sobe até o farol, da linha 334 - Far de Formentor. Custava, em 2024, 1,80 euro no cartão e 3 euros em efetivo.
Não demorei muito para entender porque o acesso de carros é vetado na alta temporada. Os penhascos são de deixar qualquer um de cabelo em pé, e o motora tira uns fininho mesmo hehe. Quando surgiu um ônibus no caminho contrário, eu duvidei que conseguiriam atravessar.
Chegando ao pé do farol, a vista é um absurdo, vou poupar palavras e só mostrar:
Tinha uma lanchonete na base do farol, mas não era possível subir na torre. Só tinha uma coisa meio chata que eram as filas para retornar: assim que um ônibus chegava, já tinha gente esperando para ter lugar na volta. Não deixavam a galera ir de pé. Ah, esse é o roteiro mais famoso entre os ciclistas de estrada, com 35 quilômetros e elevações monstruosas. Você certamente vai ver eles pelo caminho.
Se você estiver com tempo, considere conhecer a praia de Formentor. Do estacionamento, dá uma caminhada de uns 500m. Com um mar azul clarinho, ela se destaca das outras praias por ser rodeada por árvores.
Siga para Sa Calobra
Mas sigamos a viagem: pegamos o carro e voltamos pela mesma estrada rumo à famosa carretera MA-10. Cercada por árvores, e mais distante das ribanceiras, ela não é tão desafiadora quando a MA-2210, mas também exige atenção.
A ideia era dirigir 1h30min e decidir se desceria até Sa Calobra. É onde fica Torrent de Pareis, a famosa praia entre paredões de pedra em Mallorca. Junto ao acesso, tem uma pequena lanchonete, fica perto desses arcos:
Essa foto aqui, eu tirei em um mirante improvisado ao lado de um viaduto no começo da estrada de Sa Calobra para ver o que me esperava e, sinceramente, pensar duas vezes se tinha coragem. São pelo menos 12 curvas fechadíssimas, incluindo um "nó de gravata", que chega a dar uma volta de 360 graus.
Mas fui. Devagarinho, é verdade — algo como 20km/h. Fui achando mais fácil enquanto avançava e cada vez mais encantador, com plantações de oliveiras, alguns penhascos, é verdade, e até esse simpático túnel nas rochas. Os aplicativos de GPS como Google Maps conduzem certinho até Sa Calobra.
Novamente é essencial andar devagarinho porque, em algumas curvas, não dá para enxergar se vem alguém no sentido oposto, algumas vezes é necessário parar para esperar o outro carro passar. Tem um estacionamento pago lá embaixo, eu paguei 3,50 euros para 1 hora e 10 minutos em 2024. Veja nosso relato completo e todas as informações sobre Sa Calobra.
Torrent de Pareis
Vila de Dèia
Aquela descrição emocionada do pôr do sol, leitor, lá no começo desse texto, refere-se justamente à chegada a Deià. São 45km entre Sa Calobra e esse lindo vilarejo serrano, coisa de contos de fadas.
Sei que a gente está na Espanha, mas a arquitetura monocromática, com sobrados de pedra cobrindo o morro de forma tão harmoniosa, me remeteu à Toscana, na Itália. Essa pequena cidade de pouco mais de 500 habitante já foi escolhida pela Forbes como um dos 10 lugares mais idílicos para se viver na Europa. Como a nossa pousada não tinha estacionamento, precisei deixar o meu fiel Cinquecento no topo de uma colina, não sem antes apanhar para manobrar o carro em uma rua ridiculamente apertada.
Paramos praticamente embaixo da igreja Sant Joan de Deià, construída no século 14 e reconstruída no século 18. Dá para entrar no templo, ele não é muito grande e é bem escuro. Mas sabe o que eu gostei mais? Do cemitério nos fundos, uma pequena área com túmulos despadronizados e algumas árvores, emoldurada por uma vista linda da serra e do mar.
Nos hospedamos em uma pousada exclusiva para adultos chamada Hostal Villa Verde, bem na parte mais linda do vilarejo. É um negócio familiar em um casarão antigo com cheiro de madeira. O terraço onde é servido o café da manhã, em dias de tempo bom, é um charme, mas a vista do nosso quarto também era incrível. A janelinha mais parecia um quadro com movimento.
Mas se o orçamento permitisse, eu teria reservado um quarto no hotel La Residencia, com 2 piscinas ao ar livre, um restaurante premiado e um spa e um charme antigo incontestável. Chique e deslumbrante.
Eu fui para passar uma noite só em Deià, mas reparei logo que a vontade era de ficar uma semana, acordando com o galo, perambulando pelas ruazinhas silenciosas, fingindo que era uma dos cerca de 500 moradores. E provavelmente falhando nisso, porque a vontade era de saltitar e gritar a cada nova paisagem, não acho que os locais façam isso.
Tem várias opções de restaurantes no centrinho. A gente escolheu o restaurante italiano La Trattoria, que tem uma área externa mega convidativa e uma massa deliciosa, eu fui de bolonhesa. Como tinha um vento fresquinho (na serra é mais frio que em Palma ou no litoral), a gente sentou dentro, mas éramos as únicas. Também pedimos uma tarta de queso (cheescake) de sobremesa.
Deià tem uma cala homônima, uma pequena praia cercada de rochas, mas o mar estava revoltadíssimo quando fomos, transformando a água azul em marrom.
Vila de Valldemossa
Na manhã seguinte, a gente seguiu a Valldemossa, que fica a apenas 20km de Palma de Maiorca. O vilarejo mais alto da ilha, tão romântico e ainda mais fotogênico que Deià. Me pareceu mais turístico, então você deve encontrar mais multidão por lá.
Parte das ruas centrais de paralelepípedos é exclusiva para pedestres, com toda sorte de lojas de presentes e restaurantes. Vale ter pelo menos uma refeição por lá, ou sentar na rua para saborear um cafezinho que seja.
Valldemossa ganhou notoriedade no mundo inteiro porque foi onde o músico legendário Frédéric Chopin e sua amante, a escritora francesa George Sand, passaram o inverno de 1838/9, em quarto que alugaram no mosteiro. Ela escreveu um livro sobre esse período, Un hiver à Majorque (Um Inverno em Maiorca), você não deve ter dificuldades de encontrá-lo nas lojas de Valldemossa.
Eu me emocionei assistindo a um pianista tocando algumas das composições mais famosas de — acho que eu estava chorona nessa viagem. Esses breves concertos, de não mais de cinco músicas, ocorriam várias vezes por dia em um auditório anexo ao palácio do rei Sancho I de Mallorca, onde você também pode subir à torre e ter essa vista da cidade. O ingresso custou 14,50 em 2024.
Esse complexo chama Cartuja de Valldemossa, e você também pode visitar o monastério e a igreja que ficam logo ao lado (a igreja é acessada por dentro do monastério). O espaço abriga diferentes museus e exposições. Uma das salas, ou celas, como chamam, mantém essa farmácia de 1723, uma das mais antigas de Maiorca e mais bem conservadas de toda Europa.
A cela número quatro do mosteiro é onde fica o Museu Chopin: o local exato onde George Sand e o famoso compositor passaram aquele inverno, que possui alguns dos artefatos originais, como o piano de Chopin. Mas, além do ingresso da Cartuja, exigia um pagamento extra de 5 euros (em 2024).
Mesmo que você não queira comprar ingresso para a mansão real, o monastério onde se hospedou Chopin e a igreja, vale visitar o jardim no fundo da igreja e o Monumento a Frédéric Chopin.
E, se tiver tempo, explore outros ao longo da Serra da Tramontana, como Lluc, onde fica o santuário de Santa Maria de Lluc, e Sóller, com sua bela igreja de San Bartolomé, que mescla estilos barroco, modernista e neogótico.
Trem a Sóller e passeio de barco a Sa Calobra saindo de Palma
Essa foi a nossa viagem, mas a Serra da Tramuntana tem outras atrações, entre mirantes, vilarejos, torres medievais e praias. Se você tiver tempo para explorá-las com calma, depois nos conta como foi!