
No primeiro dia em Maiorca, caminhei sobre as muralhas de uma fortaleza do século XIV. No dia seguinte, dirigi por penhascos cinematográficos à beira-mar. No terceiro dia, passeei por vilas medievais que pareciam saídas de contos de fadas e, no quarto dia, andei de barco no lago subterrâneo de uma caverna, celebrando a viagem ao boiar tranquilona em uma praia de mar turquesa. Maiorca é assim, uma caixinha de surpresas no Mediterrâneo.
Também chamada de Mallorca, na grafia catalã, essa ilha espanhola ainda não é um destino muito conhecido dos brasileiros. Eu mesma só ouvi falar dela dois meses antes de embarcar — e só porque o destino original era sua ilustre vizinha, Ibiza. Mas há tanto a descobrir por lá que, aposto, vai ter muita canga verde-amarela estendida naquelas areias douradas em breve. A minha também, tomara!
Caló des Moro
Esse guia deve tirar suas principais dúvidas sobre Maiorca, incluindo como chegar, quando ir (inverno e verão oferecem experiências completamente diferentes), as melhores dicas de hotéis e o que fazer por lá! ¿Nos vamos?
Maiorca: informações gerais
País: Espanha.
Moeda: Euro.
Idioma: Catalão e espanhol.
Aeroporto: Aeroporto de Palma de Maiorca (PMI).
Documentos: passaporte e seguro-viagem.
Com relação ao transporte, na ilha tem táxi, operado com taxímetro, Uber e ônibus urbano (o Google Maps pode ajudar com as rotas). Mas se você quer explorar bem Maiorca, o jeito é alugar um carro. Maiorca é a maior ilha da Espanha; tem seis vezes o tamanho da vizinha Ibiza. O veículo vai proporcionar autonomia para conhecer várias praias e desbravar a Serra da Tramuntana do seu jeito, e nem é tão caro. A gente alugou pela Rentcars, um site que compara os preços das locadoras locais e entrega o melhor resultado de lambuja. Utilizando o nosso código MDGUIA5 no site da Rent Cars, você ganha 5% de desconto.
Valldemossa, na Serra de Tramuntana. Fotos: Jéssica Weber/Melhores Destinos
Onde fica Mallorca
Maiorca é uma ilha da Espanha no Mar Mediterrâneo. Compõe o arquipélago das Ilhas Baleares, juntamente com Ibiza, Formentera e Menorca, sendo a maior das quatro ilhas. Fica a 180 km da costa da Espanha no ponto mais próximo, que é Barcelona, a capital da Catalunha. As línguas faladas são justamente o espanhol e o catalão.
Não existem voos diretos do Brasil, você precisará fazer pelo menos uma escala. Os principais hubs da Europa, como Madrid, Frankfurt, Lisboa, Amsterdam ou Londres, têm uma boa oferta de voos, inclusive de companhias low cost (baixo custo), como Ryanair e Vueling. De Barcelona, a metrópole mais próxima, o voo dura 55 minutos apenas, e encontrei trechos a partir de 18 euros.
Se você vai para Ibiza, tem a possibilidade de pegar um ferry, mas adianto que dificilmente é mais vantajoso do que ir de avião. Leia nosso post completo sobre como chegar em Mallorca.
Quando ir a Maiorca?
Essa é uma questão importante, porque, diferentemente do Caribe ou mesmo do Nordeste brasileiro, não faz calor o ano inteiro em Mallorca.
O verão do Hemisfério Norte (de junho a setembro) é a temporada de praia, período em que a ilha lota e os preços sobem. Viajar fora da temporada pode ser bem mais barato e tranquilo, mas boa parte dos hotéis e restaurantes fecha as portas entre o final do outono e o inverno, e apenas os mais corajosos (ou doidos) se aventuram no mar.
Abril, maio e outubro são meses mais baratos, mas se você me perguntar qual mês acho melhor, eu diria junho. Além de não ser ainda tão caro quanto julho e agosto, já começa a esquentar e as chuvas são raríssimas.
A gente traz todas as informações sobre o clima, vantagens e desvantagens de cada época no post quando ir a Maiorca.
Hotéis em Mallorca
Maiorca não é um destino barato para brasileiros, e a hospedagem é o que mais pesa na conta. Por isso, é importante decidir onde ficar com boa antecedência, para garantir vaga em algum hotel com bom custo-benefício.
A ilha não é pequena, tem duas vezes a área da cidade de São Paulo. Então você terá que escolher que tipo de viagem pretende fazer para escolher o melhor hotel e ficar bem localizado. A gente ajuda você a decidir no post onde ficar em Maiorca.
O que fazer em Maiorca
A ilha espanhola tem praias idílicas, vilas medievais, uma linda região de montanhas e uma capital vibrante. Então, sim, vai ter muito o que fazer em Maiorca. Se você não quer partir com a sensação de que perdeu muita coisa, sugiro programar uma viagem de cinco dias, pelo menos. Eu ficaria uma semana por lá, sem contar os dias de chegada e partida.
Esses são alguns dos passeios mais populares da ilha:
- Tour por Mallorca, volta à ilha
- Excursão às Cuevas del Drach saindo do sul de Mallorca
- Trem a Sóller e passeio de barco a Sa Calobra saindo de Palma
- Formentor e mercados típicos de Mallorca saindo do sul
1. Explore Palma de Mallorca
Palma de Maiorca não é apenas a capital da ilha, mas também uma cidade cheia de história e charme, onde ficam os principais patrimônios arquitetônicos e culturais. Se eu fosse você, ficaria pelo menos dois dias lá, na chegada ou na partida — a capital fica perto do aeroporto.
É uma delícia caminhar sobre as muralhas da fortaleza de Palma e se perder no centro histórico, que em espanhol é chamado de "El Casco Antiguo". Uma boa forma de dar "check" nos principais pontos turísticos e ouvir um bocado de curiosidades é fazendo um free walking tour, em que você colabora com o valor que desejar no final da caminhada.
O principal cartão-postal, sem dúvidas, é a Catedral de Palma. Também chamada de La Seu, ela pode ser avistada de longe sobre as muralhas medievais. Os mais criativos conseguem enxergar nela um barco atracado sobre uma falésia, mirando o Mar Mediterrâneo. Uma curiosidade: a catedral começou a ser construída em 1229, mas foi reformada entre 1903 e 1915 por ninguém menos que Antonio Gaudí, o "deus da arquitetura" de Barcelona.
Sua rosácea principal (vitral com formato redondo) é uma das maiores já construídas em catedrais góticas, e o templo é repleto de lendas. Você pode visitá-la por conta, com a opção de subir nos terraços (veja os diferentes tickets), ou fazer uma visita guiada pela catedral de Palma. Só observe que a catedral não abre para visitações aos domingos. Exatamente quando eu estava lá, veja que sor-tu-da.
A catedral e as muralhas vistas do Parc de La Mar
Outros pontos turísticos para conhecer em Palma de Maiorca:
- Parc de La Mar: Foi exatamente por aqui que comecei meu passeio por Palma de Mallorca. O Parc de la Mar é um belíssimo parque urbano de acesso gratuito aos pés das muralhas medievais e da Catedral de Palma. É um passeio amplo, com canteiros de flores, muitas palmeiras e um majestoso espelho d'água. É fácil encontrar eventos públicos, feirinhas e artistas de rua por ali.
- Palácio Real de la Almudaina: Logo em frente à catedral, fica a residência oficial do Rei e da Rainha da Espanha durante suas estadas em Maiorca. O castelo foi construído no início do século XIV para Jaime II. Possui quartos em estilo medieval, objetos reais, a capela de Santa Ana e as antigas casas de banho. Você pode visitá-lo de terça-feira a domingo. Veja mais informações neste link.
- Castelo Bellver: Localizado a 3 km do centro histórico, o Bellver é um lindo castelo com planta em formato circular a 112 metros do nível do mar. Foi erguido no início do século XIV e utilizado como prisão militar durante muito tempo. Hoje, é um ponto turístico importante, com vistas panorâmicas da cidade, do porto, da baía e da serra. Em 2024 o ingresso custava 4 euros.
- Porto de Palma: O porto tem uma atmosfera vibrante, com iates luxuosos e muitos bares e restaurantes. Você pode fazer um passeio de barco ou simplesmente caminhar ao longo da orla para conhecer alguns dos restaurantes que existem ali. O Ola del Mar, especializado em frutos do mar, é um dos mais famosos.
- Museu Es Baluard: O Museu de Arte Moderna e Contemporânea, também chamado de Es Baluard, foi construído em 2003, com três andares que são conectados ao exterior, às muralhas da cidade e entre si por meio de rampas, claraboias e varandas internas. O museu possui uma coleção de mais de 700 obras de arte vinculadas a artistas das Ilhas Baleares ou de renome internacional.
- Palma Aquarium: Se você estiver viajando a Maiorca com crianças ou se nunca tiver visitado um grande aquário, pode ter no Palma Aquarium uma bela atividade. Ele abriga mais de 8 mil animais marinhos, incluindo peixes, corais, polvos, arraias e tubarões, que vivem em 5 milhões de litros de água salgada. Você pode comprar o ingresso na hora ou antecipadamente, tanto no site oficial quanto na nossa parceira Civitatis, que cobra o valor final em reais — veja o preço.
- Passeig del Born: Essa via, que se conecta à rua Jaime III , é a "avenida elegante" de Palma de Mallorca. Ela reúne algumas das marcas de luxo mais conhecidas do mundo. Então, se você for a Maiorca e quiser fazer umas comprinhas, pode incluir essa rua no seu roteiro.
Outros passeios incríveis que você pode fazer:
-
Free tour das muralhas de Palma
- Passeio de catamarã pela baía de Palma com churrasco
- Tour de patinete elétrico por Palma
2. Mergulhe nas lindas praias do Mediterrâneo
As praias são responsáveis por fazer de Maiorca um importante destino de verão para os europeus. A ilha tem pequenas calas, que são enseadas cercadas por rochas, além de praias extensas de areia fofa e mar aberto.
O sudeste de Maiorca reúne algumas das calas mais lindas, como:
- Cala d'Or
- Santanyí
- Llombards
- Figuera
- s’Amarador
- Caló des Moro
Escolhi a Caló des Moro, que se revelou uma das praias mais bonitas que já vi. O tom turquesa da água é surreal, a curta faixa de areia é cercada por morros arborizados, e ainda tem essas trilhas delimitadas por cercas feitas de galhos. Mas no verão recomenda-se chegar bem cedo, porque ela enche demais.
Para acessar a Caló des Moro, é necessário passar por uma longa escadaria e uma trilha de nem 10 minutos. Você vai passar por S'Almonia, uma praia com grandes rochas, de onde uma galera se atira no degradê de azuis do Mediterrâneo. No canto, há simpáticas garagens de barco e umas casinhas bem fotogênicas. É um bom lugar para fazer snorkeling, também.
Ali mesmo começa a trilha para Caló des Moro, bem delimitada e fácil. Só na hora de descer o morro até a faixa de areia que fica um pouco mais difícil; foi necessário sentar nas pedras e usar as mãos para auxiliar nesse trechinho. Não deixe de fazer as trilhas laterais, ainda na parte alta da praia, para ter uma vista incrível da cala.
A Caló des Moro não tem estrutura nenhuma de restaurantes, banheiros ou aluguel de cadeiras. Se você quer uma praia com faixa de areia mais larga e mais estrutura, com restaurantes ou ao menos quiosques, essas estão entre as mais famosas:
- Playa de Muro
- Playa de Alcudia
- Calla Millor
- Playa de Palma
- Es Trenc
Localizadas no norte da ilha, Playa de Alcúdia (foto à esquerda) e a Playa de Muro (direita) são basicamente a continuação uma da outra. As duas são muito parecidas, bem extensas, com areia branquinha e marzão azul clarinho, estrutura de restaurantes e hotéis pé na areia também. Vi fotos do mar piscininha por ali, mas quando visitei tinha bastante vento e formação de ondas. Tinha até gente praticando kitesurf em uma das pontas da Playa de Muro.
Uma coisa interessante é que o aluguel de espreguiçadeiras e guarda-sóis é padronizado pela prefeitura e tem aos montes por lá. Custava 18 euros para um dia inteiro, com um par de cadeiras e o ombrelone de palha, que no topo ainda tinha uma espécie de cofre para você guardar seus pertences.
Uma dica caso você queira ir na Playa de Muro: vá até o "moll de fusta", o extenso píer de madeira da praia, um lugar com mais estrutura e de onde saem passeios de barco também em dias de mar calmo — além de gerar boas fotos.
Cala Millor fica no leste da ilha, e é uma praia com boa infraestrutura também. Não acho tão bonita quanto as calas do sudeste da ilha, mas atrai mais visitantes porque tem grandes hotéis e opções mais econômicas também. Lá paguei a diária mais barata dos quatro hotéis em que fiquei, no Millor Sol, um hotel com decoração antiga, mas uma piscina enorme com bar e um café da manhã fartíssimo. Uma curiosidade: essa praia é um reduto de turistas alemães. Vai entender.
No sul da ilha, Es Trenc é mais preservada, ou seja, não tem construções nem vias públicas junto à praia, mas há quiosques para fazer um lanchinho ou tomar um drink e restaurantes próximos. Destaca-se pelas águas azuis clarinhas e pela areia branca.
Fica junto às planícies de Ses Salines, onde alguns dos melhores sais das Ilhas Baleares são produzidos. Achei a água do mar bem salgada, inclusive manchou minha blusa de branco. Quando estive lá, tinha um pouco de vento, mas não tanto quanto havia na costa norte.
3. Percorra a Serra da Tramuntana
Uma cordilheira paralela à costa noroeste da ilha de Maiorca, a Serra da Tramuntana reúne muitos dos cenários cinematográficos da ilha espanhola, com seus vilarejos de contos de fadas e falésias fascinantes à beira-mar. Não à toa foi declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco.
Neste post, conto o meu roteiro de dois dias pelas estradas Ma-2210 e Ma-10, a bordo de um charmoso Cinquecento vermelho. Mas foi muito pouco, se você tiver mais tempo para explorar essa região, poderá conhecer outras cidades medievais e curtir a paisagem com mais calma. Há hospedagens incríveis por lá.
Só fique atento, pois vários trechos da estrada têm curvas bastante sinuosas, algumas próximas a penhascos. Esse cenário faz da Serra de Tramuntana um destino muito procurado por ciclistas de estrada — você provavelmente encontrará vários pelo caminho.
Os próximos tópicos são de atrações que integram a Tramuntana. Eles podem ser conhecidos em sequência ou, dependendo dos seus interesses e tempo, separadamente.
3.1. Admire a vista absurda de Es Colomer e Cap de Fomentor
Na cinematográfica rodovia MA-2210, na costa norte de Maiorca, você encontrará primeiro o mirante de Es Colomer, de fácil acesso, e depois poderá ir até a ponta da península, onde fica o farol de Cap de Fomentor. Vale visitar os dois no mesmo passeio.
O Mirador de Es Colomer é um mirante na ponta de uma falésia, a 232 metros do nível do mar. Tem um estacionamento público, de ambos os lados da rodovia, mas não raro lota, portanto chegue cedo. Os visitantes caminham uns 200 metros em um caminho pavimentado, com alguns lances de escada, que vai revelando paisagens cada vez mais estonteantes.
Você ainda vai estar a 9 km do mirador (mirante) Cap de Formentor, que significa "fim de Formentor", o nome da península de 20 quilômetros a nordeste do porto de Pollença. Eu já visitei faróis em muitos países, mas nenhum fica em um cenário tão impressionante, no topo daquela montanha cortada por uma estrada sinuosa, contrastando com o azul intenso do Mar Mediterrâneo.
Atente-se ao fato de que o acesso de veículos de passeio à península de Formentor é restrito durante os meses de verão (junho a setembro). Deixamos o carro no estacionamento da Playa de Formentor (não cobrava nada) e pegamos ali mesmo o ônibus que sobe até o farol, da linha 334 - Far de Formentor. Custava, em 2024, 1,80 euro no cartão e 3 euros em dinheiro.
Não demorei muito para entender por que o acesso de carros é vetado na alta temporada. Os penhascos são de deixar qualquer um de cabelo em pé, e o motora tira fininho dos penhascos. Quando surgiu um ônibus no caminho contrário, duvidei que conseguiriam atravessar. Mas chegando aos pés do farol, a vista é um absurdo; vou poupar palavras e falar com imagens:
Se estiver com tempo, considere conhecer a praia de Formentor — a partir do estacionamento, é necessário fazer uma caminhada de pelo menos 500 metros. Com um mar azul clarinho, ela se destaca das outras praias por ser rodeada por árvores.
3.2. Vença as curvas de Sa Calobra e visite Torrent de Pareis
Sa Calobra é uma enseada deslumbrante no noroeste de Mallorca, escondida entre morros e estradas sinuosas. É lá onde fica Torrent de Pareis, a praia entre dois morros rochosos que é um dos cartões-postais da ilha.
O caminho para chegar à enseada de Sa Calobra é uma parte importante da experiência, igualmente lindo e desafiador. Ramificação da carretera MA-10, a estrada que desce até Sa Calobra vai contornando a montanha como uma serpente, com 12 curvas tão fechadas que, só de ver, dá frio na barriga. No começo do percurso, parei nesse mirante improvisado ao lado de um viaduto, onde a estrada faz um "nó de gravata". Pensei duas vezes se teria coragem.
Mas fui. Devagarinho, é verdade, nem sei se passei de 20km/h. Fui achando mais fácil enquanto avançava e cada vez mais encantador, com plantações de oliveiras e alguns penhascos, é verdade, e até esse simpático túnel nas rochas. Os aplicativos de GPS como Google Maps conduzem certinho até Sa Calobra.
Há um estacionamento pago lá embaixo: desembolsei 3,50 euros para 1 hora e 10 minutos em 2024. Ainda é preciso fazer uma pequena caminhada. Junto ao porto de Sa Calobra, há um caminho devidamente calçado que leva a Torrent de Pareis, com aproximadamente 1 km e dificuldade baixa.
O caminho é lindíssimo porque fica praticamente todo em um nível acima do mar. No trecho final, você ainda é surpreendido com um túnel na rocha. É meio estreito, mas não achei claustrofóbico, e há algumas janelas cavadas na pedra revelando vistas como essa abaixo. O barulho das ondas batendo na rocha é de arrepiar.
Se o mar estiver calmo, durante a alta temporada é possível chegar a Sa Calobra de barco (veja as datas e preços do passeio de barco saindo de Sóller). Durante a minha passagem por Maiorca, uma tormenta no Mar Mediterrâneo estava agitando e gerando uma cor turva. Dizem que, em condições normais, tem água azul turquesa e cristalina.
3.3. Encante-se com os vilarejos de montanha
O pôr do sol pintava de rosa o topo da montanha à nossa esquerda. No fim da curva, o Mediterrâneo apareceu por trás das oliveiras, além do penhasco. Estava tão lindo que eu não sabia se sorria ou se chorava atrás do volante: acho que fiz as duas coisas. Então surgiram os primeiros sobrados de pedra e esquadrias coloridas, marca registrada dos vilarejos de montanha de Mallorca.
Deià foi paixão à primeira vista, mesmo me castigando para manobrar o carro nas suas ruelas ridiculamente apertadas. Sei que a gente está na Espanha, mas a arquitetura monocromática, com sobrados de pedra cobrindo o morro de forma tão harmoniosa, me remeteu à Toscana, na Itália.
Fiz questão de me hospedar lá, para ver como era esse lugar ao anoitecer. Ficamos em uma pousada exclusiva para adultos chamada Hostal Villa Verde, bem na parte mais linda do vilarejo. É um negócio familiar em um casarão antigo com cheiro de madeira. O terraço onde é servido o café da manhã, em dias de tempo bom, é um charme, e a janelinha do nosso quarto mais parecia um quadro com movimento.
Paramos praticamente embaixo da igreja Sant Joan de Deià, construída no século XIV e reconstruída no século XVIII. Dá para entrar no templo, ele não é muito grande e é bem escuro. Mas sabe do que eu gostei mais? Do cemitério nos fundos, uma pequena área com túmulos despadronizados e algumas árvores, emoldurada por essa vista da serra e do Mediterrâneo:
No dia seguinte, fomos para Valldemossa, uma das vilas mais altas da ilha, situada a cerca de 436 metros de altitude, tão romântica e ainda mais fotogênica que Deià. Achei mais turístico também, então você deve encontrar mais multidão por lá.
Caminhando pelas ruas exclusivas para pedestres, foi fácil entender por que esse vilarejo encantou reis espanhóis e artistas do calibre de Frédéric Chopin. Eis uma fofoca de quase 200 anos: Frédéric Chopin e sua amante, a escritora francesa George Sand, passaram o inverno de 1838 na vila, em quartos que alugaram no mosteiro. Ela escreveu um livro sobre esse período, Un hiver à Majorque (Um Inverno em Maiorca). Você não deve ter dificuldades de encontrá-lo nas lojas da cidade.
No Cartuja de Valldemossa, é possível visitar o palácio do rei Sancho I de Mallorca, onde você pode subir à torre e ter uma bela vista da cidade. Também pode visitar o monastério e a igreja que ficam logo ao lado (a igreja é acessada por dentro do monastério). Uma das salas, ou celas, como chamam, abriga o Museu Chopin, com o piano original do compositor. Mas esse museu não está incluso no ingresso da Cartuja.
Conhecemos esses vilarejos vindo do norte, pois começamos a viagem em Alcúdia e passamos antes por Cap de Formentor e Sa Calobra. Mas é ainda mais fácil acessá-los a partir da capital: Valldemossa é a cidade mais próxima, a apenas 20 km de Palma.
Veja mais dicas desses vilarejos encantadores neste post. E, se tiver tempo, explore outros ao longo da Serra da Tramontana, como Lluc, onde fica o santuário de Santa Maria de Lluc, e Sóller, com sua bela igreja de San Bartolomé, que mescla estilos barroco, modernista e neogótico.
4. Entrar em uma gruta com lago submerso
Outro ponto turístico popular em Maiorca são as Cuevas del Drach, uma caverna subterrânea gigantesca com lago cristalino com barquinhos, onde acontece até um pequeno concerto. A beleza é absurda, incontestável, mas é importante saber algumas coisas antes da visita para não se decepcionar.
As Cuevas del Drach ficam no leste da ilha, 40 km ao norte de Santanyí e 13 km ao sul de Cala Millor. Há vários outdoors espalhados pela estrada. O marketing deles é bom e a estrutura também: há um grande estacionamento gratuito em frente à atração, lojinha, restaurante e lanchonetes, que não achei caras.
O ingresso custa 17,50 euros para adultos e 10,50 euros para crianças comprando pelo site previamente, ou um euro a mais se comprar na hora (preços de 2025). Você compra para algum horário específico e precisa estar na fila de acesso à caverna um pouco antes (eu diria pelo menos 20 minutos, considerando que os grupos são enormes). Uma dica importante é pegar na bilheteria os folders com explicações sobre o lugar, pois lá dentro ninguém explica nada.
As grutas desenvolveram-se debaixo do solo de Mallorca entre 11 e 5,3 milhões de anos. As rochas são de composição calcária, formadas por minerais como Calcite ou Aragonite, que podem se dissolver facilmente com a ação da água da chuva que se infiltra nas gretas devido à porosidade do terreno.
Essas infiltrações são as responsáveis pela formação das cavidades e, à medida que aumentam de tamanho, dão origem às salas e aos lagos, que depois se cobrem de estalactites formadas no teto como tubos finos que crescem em forma de cone. Algumas parecem velas com cera escorrendo, ou mesmo cascatas de chocolate branco que a gente vê em lojas de chocolate, sabe? Às vezes nem parecem de verdade. Também dá para observar incontáveis estalagmites, que brotam no solo por causa do gotejamento de uma estalactite.
A gente começa o percurso na gruta de Luis Salvador, que foi a última descoberta, em 1896. Ao entrar, sente-se na hora a umidade superior a 90%, necessária para o crescimento das formações. Passamos por formações como o chamado Monte Nevado, que deve a sua cor branca ao carbonato de cálcio que infiltra a chuva através das rochas. Mas é quando o Canal Azul aparece à esquerda que fiquei encantada: o tom da água iluminada artificialmente chega a enfeitiçar. No reta final, chegamos ao lago Martel, que tem 170 metros de extensão e até 12 metros de profundidade. É dentro dele que ocorre um concerto de aproximadamente dez minutos, com um violoncelo, dois violinios e até um piano, em barquinhos iluminados. Pede-se para não tirar nenhuma foto nessa hora. Depois, quem quiser, pode ir para a fila para fazer uma pequena travessia com os barquinhos, coisa de nem cinco minutos.
A visita dura cerca de uma hora e o percurso é de aproximadamente 1.200 metros, com um desnível de 25 metros. O que me desapontou foi o fato de os grupos serem muito grandes, muitas dezenas de pessoas, o que torna tumultuada a visita e difícil de se conectar com o lugar. Também senti falta de ter algum guia ou algo que desse explicações durante o percurso. Você acha as formações muito bonitas, mas não faz ideia do que realmente são. Também acho que teve intervenção humana demais na cova, com passarelas, escadarias e até o anfiteatro.
5. Visite a Alcúdia, antiga capital de Mallorca
Capital da ilha durante a ocupação romana, Alcúdia é uma cidade no norte de Maiorca, com uma vila medieval e algumas das praias mais famosas da ilha espanhola — que a gente já trouxe acima. Conhecida inicialmente como Pollentia, a cidade já foi habitada por fenícios também, e sofreu o ataque contínuo de piratas, o que levou à construção de muralhas em torno da vila.
Não deixe de caminhar sobre as muralhas da fortaleza, de onde se consegue uma vista bonita da vila, além de ler algumas explicações sobre a história do local em painéis informativos. A fortificação ao redor da vila de Alcúdia começou a ser construída no final do século XIII.
A Església de Sant Jaume d'Alcúdia também merece sua visita. É uma obra-prima da arquitetura gótica. Foi construída em meados do século XIII e, desde então, passou por várias alterações e extensões. Na fachada, destacam-se a rosácea e a torre do sino. Em 2024, a entrada custava um euro.
Especialmente na alta temporada, você encontra muitos restaurantes nessa região da Alcúdia, espalhados pelas ruas apertadinhas da vila ou então na Plaça de la Constitución e na Placeta de les Verdures.
Atravessando a avenida, já fora dos limites da fortaleza, você chega às ruínas da antiga cidade romana de Pollentia, construída entre os séculos I a.C. e III d.C. Trata-se de um sítio arqueológico onde é possível ver o que restou do único anfiteatro romano de Maiorca, além das fundações de outras construções.
Mas assim, esse rolê é mais para quem se interessa mesmo por história romana e achados arqueológicos, tá?! O ingresso custava 4 euros em 2024 e também dava direito à entrada no Museu Monográfico, que fica ao lado da igreja.
Do porto de Alcúdia também partem vários passeios de barco e até excursões de jet ski para conhecer a ilha de outro ângulo. Veja algumas sugestões:
6. Coma bem, afinal, você está na Espanha!
Quem aí também ama comida espanhola? Uma boa paella tem seu valor, ainda mais acompanhada de um copo — ou uma jarra — de sangria! Mas a gente foi um pouco além e experimentou também alguns pratos típicos de Maiorca mesmo, um pouco mais pesados ou polêmicos.
Chegamos a Mallorca famintos e a primeira coisa que fizemos foi sentar em uma das mesinhas na rua do restaurante Sa Portassa, em Alcúdia, para provar uma parrillada mallorquina com lombo de porco, vegetais, panceta, butifarra (um tipo de morcilha típico da região) e longaniza, que é outra linguiça típica da ilha, parecida com chorizo. O prato não é nada light, mas é saboroso e remete aos churrascos na rua em dias de festa na ilha.
Outra refeição típica foi na capital, Palma, na tradicionalíssima Casa Julio, que já está na terceira geração de donos e tem uma decoração raiz e o menu do dia escrito a giz no quadro. Pedi um prato de fritada maiorquina, um picadinho de miúdos de cordeiro com legumes e batata. Achei o preço bem justo.
Se você está em Palma e quer variedade, vá almoçar no Mercado de Olivar, que tem mais de 20 bares e restaurantes. Aberto desde 1951, o mercado oferece uma excelente oportunidade de experimentar produtos locais, como queijos, presuntos crus, aves, carnes, peixes, frutas e frutos do mar frescos.
7. Outras experiências inesquecíveis em Maiorca
- Rafa Nadal Museum Xperience: Você sabia que essa lenda do tênis nasceu em Maiorca? Nesse museu, na cidade de Manacor, você poderá conhecer a fundo a carreira de um dos maiores tenistas da história em exposições totalmente interativas. Pode ver mais detalhes e comprar ingresso neste link.
- Passeio de balão: Acredita que tem até passeio de balão em Mallorca? Você pode escolher fazê-lo ao amanhecer ou ao entardecer. As partidas ocorrem em San Lorenzo de Cardessar, Manacor ou Petra, Cala Millor ou Arta, dependendo das condições. Veja preços e detalhes neste link.
- Trem a Sóller: Há um trem centenário muito fofo que faz o trajeto entre Palma e Sóller, uma das cidades históricas da Serra da Tramontana. Neste tour aqui você vai percorrer o lado ocidental de Mallorca no trem e ainda fará um passeio de barco até Sa Calobra, que a gente descreve lá em cima.
Veja todos os passeios disponíveis em Maiorca
E aí, viajante, já está animado para a viagem a Maiorca? Espero que esse guia tenha ajudado a esclarecer suas dúvidas. Até a próxima!