Onde comer na Cidade do Panamá
Um ponto de conexão entre as Américas, a Cidade do Panamá tem uma gastronomia marcada pela mistura de influências. Os povos nativos, os conquistadores espanhóis, os africanos escravizados, os franceses que tentaram construir o canal, os americanos que tanto interviram no último século, todos deixaram uma marca na comida local.
Como uma capital vibrante, a cidade tem uma bela cena de culinária internacional, e como boa cidade costeira, também não faltam restaurantes de frutos do mar. Mas foi nos restaurantes de gastronomia tradicional que eu me apaixonei pelos sabores e também pela receptividade dos panamenhos. Os pratos tradicionais tem um quê de comfort food, um sabor de casa, mesmo tão longe da nossa casa. Então mesmo que você seja chatinho para comida, eu daria uma chance: poucas coisas são bizarras ao paladar brasileiro.
Mas já falei demais, vamos ao que interessa. Seguem nossas dicas de o que e onde comer na Cidade do Panamá. Os valores dos pratos que eu trago nesse post são referentes a novembro de 2024.
Onde comer na Cidade do Panamá
Restaurantes de comida tradicional
Conhecer sabores locais é um dos meus objetivos em qualquer viagem, o mais gostoso. Eu comi em dois restaurantes de comida típica panamenha, e, felizmente, posso recomendar ambos.
O primeiro foi no coração da cidade: o El Nacional ocupa o andar térreo de um prédio colonial de esquina na Plaza de la Catedral, no Casco Antiguo. Não é muito grande, tem uma atmosfera familiar e acolhedora. A decoração celebra a cultura panamenha, com a cabeça de diabos sobre as portas — os "diablicos sucios" são uma das figuras mais emblemáticas do folclore local.
Já gostei do lugar quando ganhei hojaldres de cortesia, um pão frito bem tradicional. Mas depois a experiência só melhorou. De entrada, experimentei a carimañolas de frango (US$ 7), que são a versão panamenha da empanada.
De principal, pedi um prato de ropa vieja (US$ 13). Era um PF de carne desfiada preparada com urucum e molho crioulo, acompanhada de arroz branco, ensopado, banana-da-terra e salada verde. Uma comida que podia muito bem ser brasileira, com um toque todo especial da banana. Aprovado!
Eu estava tão empolgada que pedi também sobremesa, uma mamallena quente com sorvete. É um doce feito com pão esfarelado e amassado, algo que fica entre um bolo e um pudim, com controversas uvas passas. Ah, pelo tamanho dava para dividir (mas eu não fiz nenhuma questão heheh).
Também é um bom lugar para experimentar o ceviche de peixe, tamal ou sancocho panameno, uma sopa que lembra canja de galinha. Nessa última, eu não vejo muita graça, mas reza a lenda que ressuscita qualquer vivente depois da farra.
Saindo na praça, você provavelmente vai encontrar uma outra tradição panamenha: os raspados, tipo essa daí do seu José. Ele carrega em um carrinho esse bloco gigantesco de gelo, que raspa na hora, para misturar com a cobertura que o cliente preferir. Pedi uma de abacaxi com manga, que, segundo o homem, era natural. Não achei tão gostoso como um sorvete, mas gostei de experimentar.
Se você quer mergulhar ainda mais na gastronomia panemenha, o El Nacional oferece aulas de gastronomia, uma turma estava começando a lição enquanto eu almoçava. Veja mais no site oficial.
A outra refeição panamenha veio na minha despedida da capital, em um restaurante bem tradicional próximo à nova região hoteleira. O El Trapiche é famoso faz tempo: já estava na primeira versão desse guia, feito há mais de 12 anos. Serve comida boa a um preço justo em um ambiente agradável, decorado com chapéus, instrumentos musicais, pinturas coloridas nas paredes, os diabinhos folclóricos também.
Lá eu experimentei o tamal de olla, tamal que é preparado em uma panela ao invés de ser embrulhado em folhas, como nos outros países latinos. É feito com milho moído, frango desfiado, azeitonas verdes, polêmicas uvas passas, e servido com patacones, discos de banana-da-terra verde fritos, que eu amo de paixão. Gostoso como o preço: US$ 6,95.
Uma dica para quem quer provar um pouquinho de vários pratos típicos é pedir a "fiesta panameña", que leva os já citados sancocho e ropa vieja, arroz de frango, o meu tamal de olla, mandioca frita, as também referidas carimañolas, patacón, almojábano (parece palito de queijo) e chicharrón (tipo torresmo). Custava US$ 13,50. Em grupos, considere pedir as bandejas de entradinhas para compartilhar (de US$ 25 a 45).
Para brindar que a viagem foi um sucesso, eu peguei um drink também. Pedi a recomendação do garçom — sério, o atendimento era ótimo, amável mesmo. Me recomendaram o Seco Cucuá, uma infusão de Seco Herrerano com maracujá, Cointreau, coentro, rapadura e pimenta da casa. Bah, eu tomaria um desses agora.
Por falar nele, nao deixa de usar o "picante de la casa" se você é chegado numa pimentinha, promete dar um "tchan" na comida.
O El Trapiche também oferece noites de espetáculo folclórico em uma peça anexa, com danças e cantos e um menu especial a preço fixo. Quando eu viajei, ocorria em terças, quintas, sextas e sábados. É bom fazer reserva.
Mas se orçamento não for problema, a gente indica os sabores do Panamá com uma pegada contemporânea e refinada no Maito. Promete "expressar a identidade culinária multicultural do Panamá, onde a mistura de influências africanas, asiáticas e caribenhas cria um sabor que se reflete em nosso cardápio, com sabores crioulos, marinhos, montanhosos e panamenhos".
Por 7 anos consecutivos, o Maito ocupou um lugar de destaque na lista dos 50 Melhores Restaurantes da América Latina, chegando a alcançar a sexta posição. O restaurante se situa no final da Calle 50, e é recomendado fazer reserva.
Restaurantes de frutos do mar na Cidade do Panamá
Situada às margens do Oceano Pacífico, a Cidade do Panamá tem muito restaurante de frutos do mar, servindo lagostas, vários tipos de peixes, pratos com camarão e muito, mas muito ceviche. Você sabe o que é, né?! É um prato tradicional em vários países da América Latina, feito com peixe cru marinado em suco de limão ou outro cítrico e vários temperos.
Ceviche do Cielo Rooftop
O santuário do ceviche no Panamá é o Mercado de Mariscos, entre a Cinta Costera e o Casco Viejo. Eles vendem o prato em cinco tamanhos diferentes, de copinhos (a partir de US$ 2) a galão (US$ 24). Tem de pescado, polvo, camarão e até de um marisco chamado concha negra. Já os pratos de peixe (robalo, crioulo, pargo, etc) custavam em torno de US$ 12.
Só vá informado que o Mercado de Mariscos não tem pompa alguma: é uma praça de alimentação raiz, movimentada, quente também, entre a doca dos pescadores e o lugar onde eles comercializam o pescado. Ah, e fui alertada para cuidar do celular e carteira (é um lugar muito movimentado).
Ainda sobre ceviches, o Segundo Muelle Panamá é o melhor restaurante de comida peruana do Panamá, especializado em frutos do mar e fusões, além de bebidas peruanas. Também tem massas acompanhadas de frutos do mar e opções de pratos sem peixe. Ele fica no bairro San Francisco, não é distante da região hoteleira.
Nas ilha de Flamenco, lá no final da Calçada de Amador, também tem alguns restaurantes de frutos do mar famosos. São um bom pretexto para percorrer essa bonita estrada, cercada pelo Oceano Pacífico dos dois lados.
A decoração tem uma pegada mais antiga, com temática pirata, e achei meio quente também. Mas a comida estava excelente. Pedi lagosta na manteiga, assim mesmo, bem simples e saboroso. Custou US$ 36 dólares em novembro de 2024 — é, lagosta não é barato.
Se eu tivesse mais estômago (e dinheiro), iria também no La Fishería Seafood, a alguns metros de distância. Tem excelentes avaliações.
Ah, ia quase esquecendo. Teve mais um dia que eu comi frutos do mar. Eu visitei um gastrobar descoladinho chamado La Pulpería no Casco Viejo. Não era grande nem nada, mas me atraiu pelas excelentes avaliações na internet. E quando eu visitei, tinha happy hour com desconto em drinks até 19h — aí que me ganhou mesmo. Margarita aprovadíssima, um climinha bom para uma saída com amigos, com uma música pop/eletrônica em som ambiente
Eu descobriria logo que o nome não vem da especialidade em polvo. As "pulperías" surgiram no século XVI na América Latina e foram os primeiros estabelecimentos comerciais que combinavam as funções de mercearia com as de taberna, vendendo bebidas alcoólicas, e com outras funções como correios, reuniões sociais, bailes, jogos e até comitês políticos. Então o bar faz uma homenagem a esses curiosos estabelecimentos.
Mas já era tarde, meu estômago já roncava por polvo e peguei o único prato com ele: cortado em pedaços e grelhado com batatas salteadas, maionese de cebola caramelizada e alho cristalizado ($ 17,50). Eu curti bastante, mas podia ter um pouco menos de sal. Esse lugar serve também ceviches, hambúrgueres, empanadas, mac and cheese, entre outros.
Ah, além do Casco Viejo, também tem uma Pulpería no bairro São Francisco, acesse o site.
Rooftops na Cidade do Panamá
Uma das coisas mais legais para fazer na Cidade do Panamá é admirar o skyline de arranha-céus da cidade, e melhor ainda se for do topo de um deles. Os rooftops não costumam ter cardápios muito baratos, mas valem pelo visual.
O Cielo Rooftop Bar fica no andar 37 de um moderno edifício da Cinta Costera. É um bem moderno, com DJ, bons drinks, um menu diverso, e, é claro, uma das mais lindas vistas da cidade. Ele fica de frente para o mar, na Avenida Vasco Nuñez de Balboa.
O clima é animado, com canhões de luzes coloridas e um DJ adepto do pop — tocou Backstreet Boys, Dua Lipa, Black Eyed Peas, mesclados com um e outro reggaeton. Mas não chegou a ter balada: a galera ficava conversando com os amigos mesmo na sua própria mesa. Eu fui em uma noite meio chocha, depois da chuva, mas ainda assim tinha bastante gente. Acho melhor reservar uma mesa.
O cardápio tinha entradas, alguma coisa de carne, peixe, risoto, e o que mais tinha variedade era ceviche. Eu fui de ceviche de corvina e chips banana, bom, mas meio apimentado talvez ácido demais. Os drinks partiam de 12 dólares, tinha vários vinhos e sangria por 30 dólares a jarra. Eu já provei melhores, mas ruim não estava.
Outra excelente experiência eu tive em um prédio mais baixo, no Casco Antiguo. E com essa vista:
Chama Lazotea Restaurant & Rooftop, fica sobre o Hotel Casa Panama. O bar cerca uma piscina com bolas luminosas boiando, tem cordões de lâmpadas e uma mesa de DJ sobre uma pequena torre — o cara que estava mixando era muito bom, tocava eletrônica com uma pegada folclórica, muita personalidade. A vista é voltada para a Cinta Costera, com os arranha-céus dos bairros mais modernos ao fundo.
Os drinks autorais custavam a partir de 14 dólares, tinha também vinhos, espumantes, cervejas. Lá eu conheci a Panama, uma lager local bem honesta. Serve risotos, massas, peixes, frutos do mar, carnes, hambúrgueres, mas eu peguei só uma entradinha para assistir ao entardecer.
E não podia ter acertado mais nos Tacos de Jicama, que levavam camarão frito em molho chipotle, cebola em conserva, rúcula fresca e pico de gallo (US$ 16). O diferencial era o uso de finas fatias de nabo mexicano no lugar da tortilha. Achei leve, harmonioso. E olha que nunca fui a maior incentivadora de nabo.
Também li boas recomendações sobre o Tantalo Roofbar. Aberto todos os dias e com apresentações musicais de todo o mundo, é um espaço convidativo para interagir com moradores e visitantes. O bar serve coquetéis exclusivos do pôr do sol até altas horas da noite.
Mais perto da região hoteleira, no Obarrio, fica o lindíssimo Luna Rooftop no piso 31 do PH Downtown 55 Street. As mesas ficam coladinhas ao parapeito, a vista é um absurdo. Quando eu voltar à capital panamenha, quero conhecer.
Cafeterias no Casco Viejo
Eu reservei uma pousada sem café da manhã e transformei essa pão-durisse em oportunidade para conhecer boas cafeterias do Casco Antíguo.
A primeira é para quem realmente gosta de café. Eu fui no Sisu porque soube que servia café Geisha, que é um dos mais valorizados do mundo.
O café Geisha é uma variedade botânica de café arábica originária da Etiópia, que recebeu esse nome porque foi registrada nos anos 1930 na região de Gesha, no sudoeste etíope. Mas foi no Panamá, especificamente na província de Chiriquí, que essa variedade ganhou fama internacional por sua qualidade sensorial excepcional. Tem fazenda que já conseguiu cobrar a "bagatela" de R$ 10 mil por quilo.
Obviamente ali não era tão caro, senão eu não teria ido. Uma xícara de Geisha ali saiu por US$ 10, isso eu achei que dava para pagar. Eu não sou especialista, mas gostei bastante, é um café suave, me lembrou os que bebi na Colômbia. Dava para levar um pacote de 120 gramas para casa por US$ 35.
O Cafe Sisu é todo moderninho, com chão e balcão de concreto, e paredes com pedras e reboco aparente. Servia também algumas torradas, sanduíches e itens de confeitaria chiquetosa, como Canelés Bordelais, um tipo de bolinho francês. Eu pedi um queijo quente, bem queijudo e derretudo.
Mas para um desayuno (café da manhã) reforçado, eu tenho outra sugestão, o também estiloso Café Unido. É uma cafeteria com cara de biblioteca , acho que por causa da estante com livros que ocupava a parede de dois andares.
Eu comi no mezanino, tinha mesas bem iluminadas por ali, uma vibe gostosa. Pedi café, pão torrado com avocado e ovos e bowl de iogurte com frutas. Bem gostosinho, com atendimento cordial.
Leia o que fazer na Cidade do Panamá