Jéssica Weber Jornalista apaixonada por mato e praia, interessada na história dos lugares, na arquitetura das cidades e em comida, é claro.

Lagoa de Guatavita

A Lagoa de Guatavita é o lugar com a história mais fabulosa da região de Bogotá. Era onde povos indígenas atiravam toneladas de ouro em rituais religiosos, inspirando a famosa lenda de El Dorado. O cacique cobria o corpo com ouro e mergulhava no lago, enquanto eram lançadas joias como uma forma de agradecer à mãe terra por tudo que lhes era ofertado. 

Lagoa de Guatavita

É claro que os conquistadores espanhóis piraram ao saber que tinha ouro nessa lagoa, no século XVI. Os europeus chegaram a abrir uma espécie de fenda no morro na tentativa de desaguá-la e roubar as oferendas. Levaram bastante coisa, mas se desapontaram ao descobrir que boa parte das peças era de ouro misturado com cobre, que tem valor muito menor. Não fiquei com dó, não, hehe. 

Você pode conhecer melhor essa história enquanto admira a lagoa de um mirante no cume da montanha. A atração fica a aproximadamente 75 km de Bogotá e pode ser visitada por meio de um bate e volta. Chegando lá, a caminhada não é longa, mas tem gente que cansa mais devido à altitude: são 3,1 mil metros, e há uma escadaria de 150 degraus na reta final. 

Lagoa de Guatavita

A forma mais cômoda de chegar é de excursão. Inclusive, o passeio que fiz combinava a visita à lagoa e à Catedral de Sal de Zipaquirá no mesmo dia — reserve neste link. Se você estiver de carro, pode ir por conta própria também: pegue a Autopista Norte ou a estrada para La Calera em direção a Sesquilé, cidade onde fica a atração. Só atente-se que pode haver congestionamentos consideráveis na rota — a gente demorou horrores para conseguir retornar. 

No passeio que contratei, a entrada já estava inclusa, mas se você for por conta, o ingresso custa 35,5 mil pesos colombianos, o equivalente a R$ 35 (preço de abril de 2024). É importante levar um bom casaco. Vi uma galera batendo queixo no começo do passeio. 

Lagoa de Guatavita: como é o passeio

Em Bogotá, havia dois pontos de encontro para a excursão à Lagoa de Gauatavita e à Catedral de Sal: na Candelária, o centro histórico, e no Parque de La 93, uma área mais nobre da cidade. Super prestativo, o guia acompanhou o grupo no micro-ônibus contando algumas curiosidades desde o começo do percurso. Mas deu um tempinho para a gente "descansar a vista também" — afinal, o rolê começava às 7h. 

A primeira parada foi na cidade de Guatavita, que me teletransportou a algum pueblo blanco da Espanha: as casas, a igreja, a antiga arena de touradas, todas as construções são brancas com telhas de barro. É muito lindo. Parece um lugar histórico, mas, por incrível que pareça, não é. Pelo menos não da forma que achei.

Lagoa de Guatavita

Esse vilarejo foi construído do zero há pouco mais de 40 anos, depois do antigo povoado ser submerso pelo Reservatório Tominé, em uma obra gigante que gera energia elétrica para localidades próximas e água para Bogotá. Ou seja, a primeira Guatativa ficou toda debaixo d'água. Doido, né?! E o guia ainda contou que nessa região está cheio de mansões de narcotraficantes. 

A parada ali foi rapidinha, só para tirar algumas fotos. Logo voltamos ao micro-ônibus e subimos mais um tanto em direção à lagoa, que, tecnicamente, fica em Sesquilé. Ela se situa em uma depressão de formato aproximadamente circular no cume de uma montanha, a cerca de 3 mil metros de altitude. 

O receptivo da Lagoa de Guatavita é bem simples, mas tem uma lanchonete com arepas, bañuelos, empanadas e outros lanches bem colombianos, e tem banheiro e uma lojinha de souvenirs. Ali nos deram a oportunidade de escolher entre um grupo com guia que fala espanhol ou inglês. 

Lagoa de Guatavita

O percurso ali leva menos de duas horas, parando para explicações no caminho. Primeiro, a gente entra em uma espécie de oca chamada Kusmuy. Lá dentro, a guia falou algumas coisas tão bonitas, propôs algumas reflexões também, eu cheguei a me emocionar. Mas deixo vocês descobrirem pessoalmente. 

Lagoa de Guatavita

Depois, começamos a caminhada entre os bosques alto-andinos e a escadaria de 150 degraus. O grupo não anda muito rápido, até porque muita gente fica mais cansada pela altitude — pode dar um pouco de dor de cabeça, cansaço, náusea. Eu achei ok, melhor do que imaginava. 

Lagoa de Guatavita

Tem pelo menos dois mirantes no topo da escadaria, onde a guia termina de contar as curiosidades do lugar. A cor da água é intensa, tem mesmo um quê de misterioso. Dizem que pode ter mais de 30 tonalidades diferentes. A lagoa tem de 25 a 30 metros de profundidade e é habitada apenas por um peixe chamado Guapucha. 

Lagoa de Guatavita

Nenhum turista pode descer até a lagoa, muito menos entrar nela. É necessário ter autorização do governo para fazer pesquisas — a última tinha sido em 2014. Mas mesmo assim adorei a visita. Especialmente porque no final do percurso, perto de onde ficam as vans, comi a melhor arepa de maiz (milho) dentre as que provei na Colômbia. Servida assim, na palha de milho. Ou seja: um passeio que alimentou o corpo e a alma. 

Lagoa de Guatavita

Depois a gente parou para almoçar e foi para a Catedral de Sal de Zipaquirá, tão monumental que é difícil de descrever. Você terá que ler o post no link acima para descobrir como é. 

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Lagoa de Guatavita

Sesquilé
251058