Casa de Anne Frank
A Casa de Anne Frank é uma das atrações mais importantes e também concorridas de Amsterdam. Foi no número 263 da Rua Prinsengracht que a menina judia se escondeu por dois anos dos nazistas, junto de outras sete pessoas. Também foi lá que ela escreveu seu famoso diário, que vendeu mais de 30 milhões de exemplares no mundo.
O espaço funciona hoje como um museu, que inclui a entrada no chamado "anexo secreto", o apartamento improvisado nos fundos de uma empresa. A visita dura em torno de uma hora e meia e ocorre com horário marcado. Os ingressos são liberados com seis semanas de antecedência, e é bom reservá-lo quanto antes. Eu mesma fui agendar com "apenas" um mês de antecedência e só tinha disponibilidade para de noite.
Eu sou bem fã da Anne Frank, guardo seu livro em uma posição de destaque na estante, com dezenas de anotações, tenho um quadro dela na minha casa, fiz até uma tatuagem no braço com uma frase que ela escreveu na contracapa do Diário: "seja gentil e tenha coragem".
Mas mesmo quem nem faz ideia de quem foi a menina, vai se interessar pela Casa de Anne Frank. Isso porque a história dela é contada desde a primeira infância, fazendo ainda um paralelo com a evolução da II Guerra Mundial na Alemanha e na Holanda.
“Eu sei o que eu quero, eu tenho um objetivo, uma opinião, eu tenho uma religião e tenho amor. Deixe-me ser eu mesmo e então eu estou satisfeito. Eu sei que eu sou uma mulher, uma mulher com força interior e muita coragem”. Anne Frank
A forma que a história é apresentada, especialmente na visita ao anexo, é sutil e comedida. Não é nada sensacionalista, não é comum ver gente chorando pelos corredores. Fique tranquilo, se você for mais sensível, não tem imagens chocantes nem nada visceral. A emoção fica por conta da história da menina mesmo, e pela empatia que ela desperta na gente, como uma mensageira, mesmo que de forma póstuma, dos seis milhões de judeus mortos na II Guerra.
A seguir eu explico direitinho como ocorre a visita. Para proteger os itens originais do museu e evitar causar incômodos aos outros visitantes, não é permitido tirar fotos no museu. Por isso as imagens internas são todas de divulgação, tiradas do site oficial.
Casa de Anne Frank: como é a visita
Embora o esconderijo usado por Anne ficasse nos fundos de um prédio da rua Prinsengracht, junto a um dos canais mais bonitos de Amsterdam, a entrada na Casa de Anne Frank Museum se dá por uma rua lateral, a Westermarkt 20, 1016.
O ingresso dos visitantes é bem organizado. Funcionários checam se você chegou no horário reservado, então pedem que você deixe suas coisas em uma chapelaria, gratuitamente, e te entregam um equipamento de audioguia, com opção de dublagem em português do Brasil. Você aponta o equipamento para quadrinhos identificados com números nas paredes para ouvi a história contada em cada cômodo, é muito fácil de acompanhar. As placas informativas estão escritas em holandês e inglês.
A primeira parte da visita acontece em ambientes onde funcionava a empresa do pai de Anne, o Otto Frank. Ele tinha uma empresa que comercializavam pectina, um agente gelificante para a preparação de geleias, e vendia ervas e especiarias. Foi nos andares de cima do prédio da firma, nos fundos, que ele improvisou o chamado "anexo secreto", para hospedar sua família e mais quatro judeus.
As primeiras salas contam um pouco da história dos Frank e as primeiras políticas de opressão aos judeus na Europa. Anne Frank era alemã: ela nasceu a 12 de junho de 1929 em Frankfurt, a segunda filha de Otto e Edith, irmã de Margot. Logo, rolaria a ascensão de Adolf Hitler, que culpava os judeus pelos problemas do país. Anne tinha quatro anos quando a família imigrou para Amesterdam.
Mas o nazismo acaba por dominar, também, a Holanda. Inicialmente, por meio de coação. Em uma das paredes, está exposta a estrela amarela de seis pontas que cada judeu precisava usar na roupa para ser identificado. Eles foram proibidos de usar carros ou trams (bondes), tinham que fazer suas compras em horários específicos, entre outros tipos de repressão.
"Não quero que a minha vida tenha passado em vão, como a da maioria das pessoas. Quero ser útil ou trazer alegria a todas as pessoas, mesmo àquelas que jamais conheci. Quero continuar vivendo depois da morte". Anne Frank
Até que alguns judeus começaram a desaparecer misteriosamente. É então que Frank decide esconder sua família e outros judeus amigos no anexo secreto. Não seria permitido sair para absolutamente nada, nem chegar perto da janela, quanto menos acionar a descarga da privada durante o dia, para não chamar atenção. As próximas salas do Casa de Anne Frank Museum apresentam os ajudantes da empresa de Otto que ajudaram a esconder e a alimentar os judeus.
O momento mais esperado da visita é quando a gente entra no Anexo Secreto, que serviu de esconderijo por dois anos e um mês. O acesso ocorre por detrás de uma estante de livros giratória, você vai passar pelo móvel original para entrar lá. Então as explicações por audioguia são interrompidas, para que os visitantes passem em silêncio, observando os cômodos e poucos objetos remanescentes.
Estante giratória que dá acesso ao anexo secreto. Foto: Anne Frank Huis/Divulgação
Não tem móveis nesse espaço, ele foi esvaziado a mando dos nazistas depois que descobriram o esconderijo, prenderam e deportaram seus inquilinos, em 4 de agosto de 1944 (um ano antes do fim da guerra). Todos levados para campos de concentração, sendo que apenas Otto sobreviveria — foi ele quem decide publicar os diários da filha.
Algumas das coisas que você vai ver lá são o livro de orações de Edith Frank, uma correspondência da irmã de Anne, a privada de porcelana pintada, o armário da cozinha original. Cada cômodo conta ainda com uma foto reproduzindo como seria o espaço quando mobiliado.
A natureza faz com que me sinta humilde e pronta para enfrentar cada golpe com coragem. Infelizmente – a não ser em raras ocasiões – só posso ver a natureza através de cortinas empoeiradas presas em janelas sujas; isso tira o prazer de olhar. A natureza é a única coisa para a qual não há substituto.
O espaço mais concorrido é o quarto da Anne Frank, que tem as paredes cobertas por recortes de revistas — a foto da atriz americana Sally Eilers com o filho de cinco anos, da atriz Greta Garbo, imagem de um pé de morango, de uma menina com um cachorrinho...
Quarto da Anne Frank, no Anexo Secreto. Foto: Anne Frank Huis/Divulgação
Nessa hora, as pessoas caminham junto das paredes em fila úncia. Eu me atravessei na frente de uma visitante sem querer e fui devidamente advertida pelo pessoal do museu, então respeitem a ordem hehe. Mas minha dica é: se o povo está andando rápido demais e você não teve tempo para ver tudo com a atenção que queria, volte para o final da fila e faça o percurso de novo.
Ainda amamos a vida, ainda não esquecemos a voz da natureza e continuamos com esperança de... tudo. Anne Frank
Dali, a gente vai para uma área mais moderna do museu, com vídeos com depoimentos de Otto Frank (falecido em 1990) e mulheres que encontraram Anne Frank em campos de concentração. Primeiro, ela foi para o temido Auschwitz, sendo depois separada dos pais, vindo a falecer no campo de Bergen-Belsen de febre tifoide em fevereiro de 1945, bem como sua irmã, Margot.
Ali você também encontra os diários de Anne Frank. No plural mesmo, são cadernos onde ela escrevia sobre o que se passava no Anexo Secreto, do medo diário de serem descobertos até as pequenas alegrias que conseguiam viver, e mais tudo o que sentia e pensava - inclusive, tinha pensamentos bem feministas e maduros para sua idade.
Primeiro diário da Anne. Foto: Anne Frank Huis/Divulgação
Ela começava cada novo relato com "Dear Kitty", ou "querida Kitty", que era uma espécie de amiga imaginária. Além disso, escrevia também histórias curtas e anotava passagens de livros que lia no seu Livro de Belas Frases. Chegou a começar um romance — ela queria ser jornalista e escritora.
"É o silêncio que me assusta tanto nas tardes e à noite. Não consigo dizer o quão opressivo é nunca poder sair; também tenho muito medo de sermos descobertos e fuzilados. Não é exatamente uma perspectiva agradável. Temos que sussurrar e pisar levemente durante o dia, ou as pessoas no armazém podem ouvir". Anne Frank
Eu fiquei lá até fecharem o museu, por mais ou menos uma hora e meia. A maioria das pessoas toma menos tempo, mas eu recomendo ouvir todos os áudios e observar cada objeto exposto, afinal, esse é um dos museus mais renomados do planeta — e o ingresso não custou barato, né?
No final do percurso, há exposições temporárias e também uma lojinha, com livros, cartões-postais e outros souvenirs que remetem a Anne. Eu não resisti, levei uma ecobag com uma frase dela:
"Como é maravilhoso que ninguém precise esperar um minuto sequer antes de começar a melhorar o mundo". Anne Frank
Ingressos para a Casa de Anne Frank
A Casa de Anne Frank só pode ser visitada com um ingresso comprado online pelo site oficial. Toda terça-feira, os ingressos ficam disponíveis para visitas até seis semanas depois. Não é possível comprar em dinheiro, apenas com cartão.
Você vai reservar o dia e o horário da visita, entre 9h e 20h45, quando o último grupo entra. Repare que os dias marcados em vermelho são os que já têm todos os horários esgotados (sim, são muitos hehe).
Em outubro de 2024, a entrada custava 16 euros (cerca de R$ 100) para adultos e 7 euros para crianças de 0 a 9 anos. é cobrada uma taxa de 1 euro para a reserva.
Além do Casa de Anne Frank Museum: o que ver em Amsterdam
Se visitar a Casa de Anne Frank não é o suficiente, você pode fazer também um tour da Anne Frank pelo bairro judeu de Amsterdam. O passeio te apresenta lugares, monumentos e edifícios através dos olhos da pequena Anne Frank. Inclui a passagem pela sinagoga portuguesa, a sede do conselho judeu, o Monumento a Auschwitz e o Estivador e a Igreja Westerkerk. Veja mais detalhes e reserve sua vaga neste link, tem roteiro feito em português mesmo.
Também vale visitar o Memorial Nacional do Holocausto, no bairro judaico de Amsterdam. É um labirinto em que cada tijolo traz o nome de uma das vítimas dos nazistas no país, com data do nascimento e idade da morte (foram mais 100 mil holandeses executados). Quando visto de cima, forma quatro letras em hebraico que significam "em memória".
De acesso gratuito, o memorial foi projetado pelo arquiteto americano-polonês Daniel Libeskind, de 75 anos, que perdeu parentes no Holocausto. Placas com QR Codes te direcionam a um site, onde você pode buscar pelo nome de alguma vítima. O sistema então te aponta onde que está o tijolinho correspondente. Um deles homenageia Anne, cujo nome na verdade é Annelies Frank.
É um lugar onde sobreviventes e familiares podem lembrar dos seus entes queridos, enquanto serve para alertar a humanidade sobre as consequências brutais de qualquer tipo de preconceito.
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