Museu Van Gogh
O Museu Van Gogh é um dos museus mais importantes, não só de Amsterdam, mas de toda a Europa. Ele abriga a maior coleção existente do artista holandês: são mais de 200 pinturas, além de desenhos, cartas e objetos pessoais. É emocionante ficar cara a cara com obras que nos apresentaram lááá nas primeiras aulas de Artes da escola, a bons 10 mil quilômetros de distância.
Além de ter o trabalho facilmente reconhecível pelas pinceladas expressivas com cores vibrantes, Vincent Van Gogh (1853 - 1890) desperta curiosidade por sua trajetória ao mesmo tempo fascinante e trágica. Foi ele quem cortou um pedaço da orelha, embrulhou e deu de presente para uma prostituta, um ano e meio antes de dar fim à própria vida com um tiro em um campo de trigo — se bem que até sua morte envolve polêmica.
Sua história é apresentada de forma sutil ao passo que vamos conhecendo suas telas. A gente também pode admirar obras de artistas que inspiraram Van Gogh, como Monet e Paul Gauguin. Reserve, no mínimo, duas horas para a atração, até porque o ingresso não é barato. Ele precisa ser comprado antecipadamente pela internet — esse é o site oficial, mais abaixo a gente explica tudo direitinho. A Civitatis oferece visitas guiadas em espanhol.
Inaugurado em 1973, o Museu do Van Gogh fica no Museumplein, praça que também é rodeada pelos museus Rijksmuseum, Stedelijk, Moco e sala de concertos Concertgebouw. Mas evite a tentação de marcar vários museus para o mesmo dia, isso seria muito cansativo.
Museu Van Gogh: como é a visita
É necessário chegar ao Van Gogh Museum no dia e horário agendados pela internet — quando eu fui, havia uma tolerância máxima de 30 minutos. A entrada ocorre por um anexo moderno de vidro ao lado do edifício principal, onde devem escanear o QR code do seu ticket. Ali você também pode alugar o equipamento de audioguia, que tem versão em português do Brasil e custam 3,75 euros (preço de 2024).
Eu curti a experiência com o audioguia, acho que é uma forma de não passar batido pelos principais obras. Especialmente porque são poucas as telas que tem alguma descrição na parede, e apenas em holandês e inglês. Se você não gosta de usar o equipamento ou prefere não gastar com isso, vale usar o próprio site oficial para descobrir curiosidades de cada tela — na aba "collection" você consegue ver cada uma e saber do que se trata.
Subindo uma escada rolante, você chegará ao primeiro dos três pavimentos do museu. Uma dica maravilhosa para crianças: no balcão de informações que tem ali, você pode pedir gratuitamente livretinhos infantis de caça ao tesouro, que tem atividades lúdicas para os pequenos desenvolverem dentro do museu.
Por exemplo, as crianças precisam responder o que as pessoas retratadas estão comendo no quadro X, ou qual objeto Van Gogh leva na tela Y, ou qual obra tem um coelhinho escondido. Eu digo que é legal para crianças, mas me arrependi de só ter pegado os livrinhos na saída, teria me divertido com eles durante a visita. A caça ao tesouro está disponível em holandês, inglês, francês e alemão. Parece que se você voltar depois e pedir para eles verificarem suas respostas, eles lhe darão um pequeno presente (juro que não sei o que é).
A primeira sala da coleção está cheia de autorretratos de Van Gogh. Alguns com chapéu, outros com seu cachimbo favorito, às vezes com a testa franzida. Não pense que pintar tantas vezes a si mesmo era um indício de narcisismo dele, de paixão pela própria imagem, longe disso. Ele não tinha dinheiro para remunerar modelos, e usar a própria imagem era uma forma de testar formas diferentes para expressar emoção.
Repare que nem sempre usa a mesma cor para seus olhos. Os autorretratos de Van Gogh não tinham a intenção de mostrar como ele realmente era, mas eram exercícios de cor, pincelada e expressão facial. Com exceção do Autorretrato como Pintor, onde ele se apresenta como um artista seguro atrás de seu cavalete. Mais tarde, ele escreveu: "É apenas em frente ao cavalete enquanto pinto que sinto um pouco da vida".
Subindo um lance de escadas, você vai reparar que não há só obras de Van Gogh expostas. Também há telas pintadas por amigos, por pintores que influenciaram ou foram influenciados por ele. Essa abaixo é de Claude Monet (1840-1926), uma das referências do holandês. Chama-se Campos de Tulipa próximos a Haia (1886).
Entre os objetos expostos no Museu de Van Gogh, há a mesa de escrever do artista, onde redigia suas cartas para o irmão, e essa caixa laqueada vermelha, com pequenos novelos de lã coloridos. Serviam para não desperdiçar as tintas caras ao experimentar cores, encontrando as melhores combinações de tons para suas pinturas e contrastes complementares.
Van Gogh era um gênio das cores. Desde as primeiras pinceladas, ele leu livros sobre teoria da cor e estudou como outros pintores a aplicava. Usava tons para aplicar em seu trabalho uma carga emocional. "A cor expressa algo em si", já disse ele.
Se você é fã do Van Gogh (ou se é apaixonado por comprinhas), tem duas lojinhas no museu, na entrada e no primeiro piso da coleção. Achei interessante que tem ilhas dos quadros mais icônicos, com os mais diversos souvenires inspirado neles. Tem sombrinha, lenço, meia, porta-copo, até porta batom... Também há uma livraria no último piso.
Cinco pinturas que você precisa ver no Museu Van Gogh
Eu separei cinco das pinturas mais icônicas de Van Gogh que você vai encontrar no museu em Amsterdam. A maior parte das explicações, eu compilei das placas, do audioguia ou mesmo do site oficial do museu. Vale disputar espaço com outros visitantes e admirar esses quadros com calma.
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Aardappeleters - Os comedores de batatas (1885)
Para Van Gogh, uma pintura camponesa deveria cheirar a bacon, fumaça e batatas fumegantes — você consegue sentir isso só de olhar para a tela? O vapor sobe do prato de batatas, a simples refeição compartilhada por toda a família. Van Gogh viu a própria essência e principalmente também a tragédia da vida nesses pobres camponeses. Deu a eles feições grosseiras e mãos ossudas e calejadas, e escolheu tons de cinza escuro que combinavam com a terra empoeirada.
Van Gogh chegou a acreditar que era sua melhor obra, mas foi achincalhado por amigos e possíveis compradores. Por carta, o pintor Anthon van Rappard enumerou detalhes que não gostou e chegou a dizer: "Esse trabalho certamente não foi planejado com seriedade. E com tal trabalho atreves-te a invocar os nomes de Millet e Breton? Vamos! A arte é muito importante, parece-me, para ser tratada com tanta arrogância".
Lembremos que Van Gogh pintou mais de 2 mil quadros e só vendeu um em vida.
- Zonnebloemen - Girassóis (1889)
Em 1888 e 1889, Van Gogh pintou cinco telas de girassóis em Arles, no sul da França. Com nada mais do que três tons de amarelo, ele alcançava uma harmonia de cores que brilham como uma visão. Em uma carta, o irmão Theo elogiou o efeito de um pedaço de tecido bordado com cetim e ouro.
Van Gogh também percebeu que havia feito uma imagem notável e descreveu o quão fundo ele teve que cavar para alcançá-la. Ele havia usado toda a sua energia e concentração para "pegar fogo". Orgulhoso do resultado, ele se autoproclamou o pintor de girassóis. As cinco versões viraram ícones da arte moderna.
Para Van Gogh, as imagens de girassóis comunicavam gratidão.
- De slaapkamer - O quarto (1888)
Enquanto estava em Arles, Van Gogh mesmo preparou o quarto com móveis simples e com seu próprio trabalho na parede, antes de reproduzi-lo. O ângulo estranho da parede traseira, entretanto, não é um erro - o canto realmente estava torto. As regras de perspectiva parecem não ter sido aplicadas com precisão em toda a pintura, mas esta foi uma escolha deliberada. Vincent disse a Theo em uma carta que ele havia "achatado" o interior e deixado de fora as sombras para que sua imagem se assemelhasse a uma gravura japonesa.
Van Gogh foi se aperfeiçoando em usar cor e estilo para expressar emoções. Com os tons brilhantes de seu quarto, quis transmitir "repouso total", em um período em que se sentia qualquer coisa menos calmo. Ele esperava que suas pinturas proporcionassem conforto não apenas a si mesmo, mas aos outros também.
O pintor estava convencido de que esta agora famosa pintura tinha isso: "Quando vi minhas telas novamente depois da minha doença, o que me pareceu o melhor foi o Quarto."
- Boomwortels - Raízes de Árvores (1890)
Van Gogh pintou esta paisagem nos arredores da vila de Auvers. Ele retratou as raízes das árvores de muito perto, o que faz com que a composição não tenha um horizonte e senso de profundidade. Como resultado, a pintura causa uma impressão quase abstrata. Van Gogh pintou os troncos irregulares e raízes das árvores, assim como a luz caindo sobre eles em pinceladas ousadas.
A pintura permaneceu inacabada; ele atirou em si mesmo no peito naquela mesma tarde, aos 37 anos.
- Amandelbloesem - Amendoeira em Flor (1890)
As amendoeiras florescem no início da primavera, tornando-as um símbolo de uma nova vida. Ao receber a notícia do nascimento do seu sobrinho, Van Gogh pintou as amendoeiras recém florescidas contra o céu azul nessa que viria a ser uma de suas mais famosas obras. Seria um presente seu irmão Theo e sua cunhada Jo.
Na carta anunciando a nova chegada, Theo escreveu: "Como dissemos a você, daremos a ele o seu nome, e estou fazendo o desejo de que ele seja tão determinado e corajoso quanto tu." E o mais incrível é descobrir que foi essa criança, Vincent Willem, quem viria fundar o Museu Van Gogh.
Uma frase de Van Gogh transcrita torna esse cantinho do último andar mais especial: "Acredito que no momento devemos pintar os aspectos ricos e magníficos da natureza; precisamos de bom ânimo e felicidade, esperança e amor".
Ingressos para o Museu do Van Gogh
É indispensável comprar ingresso online com antecedência, usando um cartão. Eu recomendo adquirí-los com pelo menos uma semana de antecedência. Se possível, antes.
Esse aqui é o canal de vendas no site oficial. Em 2024, o ingresso custava 22 euros, ou 25,75 euros com o audioguia incluso (me custou R$ 179,91, barato não é). A boa notícia é que é gratuito para qualquer visitante com menos de 18 anos.
Também dá para reservar uma visita com tour guiado. Essa aqui ocorre em espanhol, com um guia especializado em história da arte. A Civitatis também vende o ingresso no Museu Van Gogh com um cruzeiro pelos canais de Amsterdam por um preço único, já em reais.
O Museu de Van Gogh abre diariamente, com a primeira admissão às 9h e a última às 16h30min.
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